Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

José Luiz Braga 308 e de outras condições de ação. Isso significa que, malgrado uma simetria possível no código redutor, as situações de polarização podem ser fortemente assimétricas, na realidade social – situan- do um dos polos na posição de opressor e o outro, na posição de oprimido. É onde aparece com resultados mais graves a questão da intolerância. A desigualdade de forças leva ao cerceamento, à coação sem argumentos e ao impedimento da autodefesa. Com estas características, outra diferença vai corres- ponder à articulação interna de cada um dos dois campos, com seus participantes e apoiadores. Como a diversidade se mantém provavelmente mais perceptível no polo oprimido, há motivos de articulação – mas esta pode sofrer, ao contrário, de linhas in- ternas de conflito e ruptura. Já no campo da intolerância polarizante, o quadro é ou- tro. Certamente, encontra-se aí uma diversidade factual de inte- resses grupais, de categorias e de status social, de corporações e de linhas de ação preferencial. Como explicar o pensamento único que parece apagar a pluralidade de perspectivas dos di- ferentes circuitos? Como estes esquecem suas diferenças (par- ticularmente quando afastados dos núcleos de poder) e fazem frente opressora conjunta? Umberto Eco (1995) mostra o potencial agregador, em determinadas situações político-econômico-sociais, de frustra- ções e ressentimentos em parcelas da sociedade que se conside- ram não atendidas (ou não reconhecidas) em suas expectativas. Apesar da variedade de problemas e dificuldades, se os diferentes circuitos são levados a atribuir a culpa pela situação a uma parce- la mais ou menos identificável da sociedade, pode ser gerada aí uma dinâmica de polarização, que passa a se autoalimentar. O se- tor “culpado” é constituído, em referência genérica e abrangente, como responsável por todos os problemas da sociedade: O ur-fascismo provém da frustração individual ou social. O que explica por que uma das caracte- rísticas dos fascismos históricos tem sido o apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subal- ternos (ECO, 1995, característica nº 6).

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