Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Da midiatização à midiatização profunda 31 atores que operam nos próprios ambientes da mídia – profissio - nais da mídia, jornalistas – e, de outro, pessoas que atuam em di- ferentes domínios sociais (instituições políticas, religiosas, edu- cacionais, etc.) que são confrontadas com a crescente influência das mídias digitais e suas infraestruturas. Mas é, precisamente, o caráter de longo alcance da mi- diatização profunda que torna necessária uma perspectiva mais ampla de sua “feitura”. Como as mídias digitais e suas infraestru- turas se tornaram uma base para práticas econômicas e práticas produtivas em geral, um argumento neste ponto é considerar uma nova forma de entender a economia política do capitalis- mo digital (MURDOCH, 2017). Outro ponto importante é enfo- car o fato de que novos “intermediários” devem ser incluídos em nossas considerações, se realmente quisermos compreender a “feitura” da midiatização profunda (HEPP, 2020, p. 30-40): Vá- rios coletivos – movimentos sociais, instituições de pesquisa, comunidades pioneiras – são orientados para a “atuação sobre a mídia” e, assim, tornam-se parte fundamental da “feitura” da midiatização profunda. Em essência, a expressão “agir sobre a mídia” enfatiza o fato de que “uma ampla gama de atores [...] participa ativamente na formação de organizações de mídia, in- fraestruturas e tecnologias que fazem parte do tecido da vida co- tidiana” (KANNENGIEßER; KUBITSCHKO, 2017, p. 1). Tende-se a pensar sobre a “mídia como prática” de forma mais ampla do que se pretendia originalmente. Em sua intervenção original so- bre a questão da prática, Nick Couldry (2004, p. 117) se preocu- pou em descrever a prática da mídia “como o conjunto aberto de práticas relacionadas às mídias ou orientadas em torno delas”. Seu foco era, principalmente, a compreensão da comunicação com mídias como uma prática. A expressão “agir sobre a mídia” agora percorre caminhos alternativos, ampliando, assim, seu es- copo, à medida que as mídias se tornam tão fundamentais nas sociedades profundamente midiatizadas de hoje – como insti- tuições e como materialidades – e à medida que, cada vez mais, passam a representar um objeto de luta social. Em tempos de midiatização profunda, diversas coleti- vidades consideram que as mídias e suas infraestruturas podem ser identificadas como um objeto de envolvimento com a expec - tativa de que possam ter uma influência nos processos de trans -

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