Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Polarização como estrutura da intolerância (uma questão comunicacional) 313 Após as eleições de 2014, porém, o partido então na oposição, não conformado com a ausência de alternância por mais um período, desistiu do caminho democrático, desen- cadeando uma instabilidade política e social que atravessou o quadriênio, levando, através do período eleitoral, a uma pola- rização da intolerância com as características que observamos, conceitualmente, no presente artigo. O processo substituiu a po- laridade de perfil democrático, ironicamente levando de roldão o partido que tomou a iniciativa da ruptura. As circunstâncias econômicas na base do processo exa- cerbaram a polarização política, que penetrou todos os espaços. Já não se trata mais de contraposição entre projetos políticos as- sumidos como alternativas de condução dos encaminhamentos públicos ou da definição de estratégias político-econômicas – mas sim da imposição de alinhamento estrito em um nível trata- do como “visão de mundo”, mas canhestramente composto por um agregado esdrúxulo de preconceitos, perspectivas ressenti- das, posições antidemocráticas, conservadorismo de costumes, desapreço pela educação, ausência de políticas públicas para a pobreza, para a desigualdade social e para o desemprego. Tudo isso permeado por uma atitude de bullying social que capilariza, como perspectiva excludente, para amplos setores da sociedade. Como evidentemente uma política organizada nestes termos obteria uma adesão baixíssima, o que agrega pessoas e setores em torno de tal programa são motivações de outras or- dens. É nesse espaço que entram em cena as características po- larizadoras que assinalamos no terceiro item deste texto. A po- larização se instala nas situações de anomia e de ideias prontas. Não se pode lutar contra isso como se se estivesse en- frentando uma política racional – com base em contra-argumen- tos. Mas é preciso, sempre, resistir à opressão da intolerância. Ao lado de uma necessária recusa, estrita, do obscurantismo impli- cado nas atitudes referidas, alguns desafios devem ser enfrenta - dos em todos os âmbitos sociais para fortalecer o ânimo na des- montagem da estrutura polarizada – como processo paralisador, que é, da democracia e do desenvolvimento civilizacional. A recusa inflexível da desqualificação resultante da estrutura paralisadora é diferente de apenas querer inverter os polos ou de pretender o mero retorno a um status quo ante ,

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