Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização, interações e práticas educacionais: um esboço a partir da sala de aula 41 textualmente: “Uma rede mundial de computadores tornará acessível, em alguns minutos, todo o tipo de conhecimento aos estudantes do mundo inteiro”. O problema não eram os meios em si, mas a maneira como a cultura, os usos humanos desses meios, estavam distan- tes da escola, como se o modelo escolar fosse refratário às con- dições estético-cognitivas decorrentes da apropriação desses meios, afirma Lima (1989). Pensar as relações entre mídia e ensino indica, entre ou- tras coisas, a necessidade de entendê-las em suas articulações, tensões e complexidades, evitando interpretações redutoras ou binárias que às vezes vêm à tona quando o assunto é discutido. Este ensaio delineia alguns aspectos da relação entre o ambien- te das mídias digitais e os espaços de ensino-aprendizagem, na perspectiva de uma teoria da midiatização (MARTINO, 2019a; 2019b), a partir de três pontos: (1) pensar, para além da “tecno- logia”, a ferramenta, mas a “técnica”, capacidade humana de fazer e de criar; (2) os processos de aprendizagem, em sua multiplici- dade, estão ligados aos hábitos cognitivos de quem aprende; (3) o aprendizado se articula de muitas maneiras com o ambiente digital contemporâneo, o que não significa o simples “uso” da tecnologia, mas sua articulação com as práticas sociais da edu- cação – o que remete de volta ao primeiro ponto. 2. A dupla face da tecnologia, entre remédio e veneno Platão, em seu diálogo Fedro , faz uma das primeiras crí- ticas às vantagens e problemas da adoção de novas tecnologias – no caso, a “nova tecnologia” era o alfabeto. Recorrendo, como costumava fazer, a um mito, Platão narra o episódio. Theut, um sábio do antigo Egito, certo dia aproximou-se do faraó Thamus para lhe oferecer uma invenção, um remédio ( pharmakón ) para a memória: o alfabeto, a escrita. Com aquela nova tecnologia, explicava Theut, os egípcios nunca mais preci- sariam se preocupar em se recordar das coisas; uma vez regis- trado pela escrita, nada seria esquecido. Thamus, no entanto, recusou a oferta: aquela invenção, a capacidade de gravar coisas fora da mente humana, seria um veneno (também pharmakón )

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