Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização, interações e práticas educacionais: um esboço a partir da sala de aula 43 Dessa maneira, falar de “técnica” não era apenas falar de uma capacidade operacional prática referente a determinada ação, mas da potencialidade de transformar um “conceito”, uma “ideia” ou “forma” ( eidos ) em algo físico, concreto. A tekhné rea- liza essa passagem, tornando-se um conceito tensionado entre o “conceito” e a “prática”. Se essa concepção é levada em conta, falar da “técnica” como algo separado do ser humano que a utiliza parece ser uma contradição: a técnica, neste ponto de vista, não é um atributo do dispositivo empregado para a realização de algo, mas é ine- rente ao humano – o oposto disso seria como dizer que a “téc- nica” do carpinteiro está no formão, e não em seu operador. A “tecnologia”, pensada nesse sentido, pode eventualmente ser considerada em termos de algo externo ao ser – que, de todo modo, a elaborou –, mas isso não ocorre com a técnica, humana. É em sentido parecido que Heidegger parece trabalhar o assunto em sua conferência sobre a técnica: a técnica não é, em si, uma “técnica”, mas faz parte do humano. O pharmakón é constituinte e constitutivo do humano. Se o pharmakón é generalizado, como fica o ato de ensi - nar? Em que medida a epistéme pode ser influenciada pelo phar- makón da técnica? Não é o objetivo aqui propor respostas, mas talvez delinear algumas dessas questões, atuais há dois mil anos. 3. A construção do hábito de aprender Em sua Metafísica , Aristóteles faz duas breves conside- rações sobre o aprendizado que podem oferecer algumas pis- tas para se pensar as questões deste ensaio. “O sucesso das li- ções”, afirma no início do livro Gama, “depende dos hábitos dos ouvintes O ”. hábito, explica Aristóteles na Ética , decorre de um aprendizado. Ele não é dado, mas construído a partir da prática, que, por sua vez, incorporada e subjetivada, torna-se uma ação automática, uma “segunda natureza”. O hábito leva o ser humano a fazer a maior parte de suas ações, e, não por acaso, uma parce- la considerável do processo educacional se refere ao cultivo de hábitos a partir da prática constante das ações corretas.

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