Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização, interações e práticas educacionais: um esboço a partir da sala de aula 45 Como lembra Flusser (1966), o fato de alguém não do- minar as técnicas para o uso das tecnologias de um ambiente não o impede de viver nele. O ambiente tipográfico, dominado pela escrita e pela impressão, foi vivido mesmo por quem não dominava a leitura, assim como na atualidade os ambientes di- gitais compreendem as ações mesmo daqueles que, por alguma razão, não estão a eles conectados – as barreiras digitais, pensa- das sob essa perspectiva, tornam-se triplamente excludentes em seus aspectos econômicos, cognitivos e relacionais. Os hábitos de quem nasceu e cresceu em um ambien- te digital não podem ser dissociados da cultura da mídia. Seus modos de ver o mundo, de apreender a realidade, devem ser pensados em articulação com esses elementos presentes – em quantidades diferentes, certamente, segundo questões multifatoriais – nesse ambiente. Suas referências, memórias, práticas e modos de compreender estão articulados constan- temente com essas referências a partir das quais as pessoas, no ambiente digital, fazem suas leituras do mundo (BRAGA; CALAZANS, 2001). Pensar o ensino contemporâneo é, em certa medida, pensar nos modos de compartilhar saberes dentro de um am- biente digital no qual os indivíduos, vivendo em uma sociedade mediatizada, destacam-se por trazerem consigo hábitos cultiva- dos nesse ambiente. Como diz Evangelina Margiolakis (2011, p. 158), “muchos docentes en comunicación plantean que lo dis- tintivo de la enseñanza de este tema es la posibilidad, más que cualquier otro campo, de trabajar con los conocimientos previos de los alumnos”. E completa (2011, p. 160): “Si los saberes co- tidianos non son analizados críticamente, pueden operar como barrera para la problematización”. É preciso levar em conta que o espaço da sala de aula, mesmo quando totalmente desprovido de qualquer artefato di- gital, é parte desse ambiente. Natalia Anselmino (2010, p. 52) indica que “El análisis de los discursos mediatizados requiere un modelo teórico-metodológico que permita explicar el proce- so de significación que tiene lugar no gracias a la actividad de un sujeto individual, sino a partir de organismos colectivos mucho más complejos”. Não é a presença destacada de dispositivos tec- nológicos que caracteriza um ambiente digital, mas a articulação

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