Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização e virtualidade nas ciências humanas: uma encruzilhada anunciada 55 Ora, do protagonismo do tempo presente orientou-se grande parte da tensão dialética entre produção de conhecimen- to e forma social (OUELLET; MARTIN, 2018). Pensado nos ter- mos de Habermas (2015), ele estaria entre os ganhos da chama- da modernização cultural e teria norteado parte significativa das ciências humanas em suas variadas formas de crítica – empírica, normativa e estética – ao processo de mercantilização e buro- cratização do dinheiro e do poder que, indiferentes ao proble- ma do entendimento comunicativo, produziriam a rarefação dos vínculos de solidariedade. Para o autor, tal protagonismo profa- naria tradições e responderia “pelas mudanças culturais, pelas mudanças de motivação e das atitudes, dos deslocamentos dos padrões valorativos e identitários, atribuídas a uma irrupção de inovações culturais no mundo da vida” (p. 84). Em síntese, o tempo presente seria acontecimento emancipatório, responsá- vel pelos avanços da democracia moderna, bem como da ideia política de uma esfera pública ampliada, aquisições das mais importantes, herdadas da modernização cultural, devedoras, em larga medida, do entrelaçamento da atividade intelectual a um tipo de ação social transformadora. 2. Sobre o neoconservadorismo na cultura Hoje, todavia, como consequência direta do crescimen- to generalizado do neoconservadorismo na cultura – que, por um lado, investe fortemente na crítica à modernização cultural como causa da crise e do mal-estar contemporâneo e, por outro, adere à radical modernização social, atualizando as “necessida- des funcionais do Estado e da economia” (HABERMAS, 2015, p. 69) –, nos deparamos com a encruzilhada que envolve o prota- gonismo do tempo presente, em especial, no âmbito das ciências humanas. Ou seja, na mesma intensidade em que sobre ele se ra- dicalizam os investimentos do tempo real – em que predominam os chamados regimes de antecipação, também característicos do neoconservadorismo da cultura –, dá-se o retraimento de sua virtualidade, a qual, historicamente, impulsionou diversas refle - xões nas chamadas humanidades. A proposição parte da dupla contenda alimentada pelo atual conservadorismo. Por um lado,

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