Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Tiago Quiroga 56 ele ataca os ganhos da modernização cultural como “processos coletivos de aprendizagem” (FREITAG, 1995, p. 139), que inclui- riam o próprio Estado de direito, o espaço público ampliado e o processo de democratização constante. Por outro, adere ao que há de mais radical em termos de liberalismo econômico, refor- çando a difusão do capital financeiro, o mercado das emoções, a fragilização das identidades de classe e os empreendedorismos generalizados. Segundo Habermas (2015), diferentemente do velho conservadorismo , que se opunha integralmente às novi- dades da modernidade, em nome de formas de vida tradicionais, o novo conservadorismo faz uma aliança programática com os inconclusos processos de modernização. Tal como o velho con- servadorismo, ele mantém o enfrentamento à modernização cultural , porém como forma de justificar o incremento da mo- dernização social . Ou seja, o neoconservadorismo inverte o jogo de causas e efeitos com relação ao diagnóstico da crise contem- porânea (QUIROGA; CASTRO, 2020). Para ele, a causa dos pro- blemas econômicos e sociais está na desintegração simbólica de heranças comuns, fragilizadas pelo processo de modernização cultural, que nos cabe agora restaurar. Nesse caso, não apenas a atividade intelectual, base de esfera pública ampliada, passa a ser desacreditada, devendo-se “cultivar a cultura tradicional, os poderes mantenedores próprios da eticidade convencional, do patriotismo, da religião burguesa [...] que existem para com- pensar [...] onerações [...] da sociedade concorrencial e da mo- dernização acelerada” (HABERMAS, 2015, p. 228), mas também a própria produção do conhecimento, concebida como decisiva à constituição das democracias modernas, estaria entre os alvos do novo obscurantismo. Daí, em larga medida, “a desconfiança em relação à história como ciência social e uma desvalorização da sociolo- gia, em geral das ciências sociais fecundas para a realização de diagnósticos de época” (HABERMAS, 2015, p. 88). Para o neo- conservadorismo, “os conhecimentos científicos só devem ser usados [...] para o progresso técnico e, quando muito, para o planejamento econômico e administrativo” (ibid., p. 87). Ou seja, ainda que se salve parte das chamadas ciências da gestão (GULEJAC, 2007), diretamente ligadas à modernização social, todas as demais, cujo vínculo se dá sob a alcunha das chamadas

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