Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização e virtualidade nas ciências humanas: uma encruzilhada anunciada 57 humanidades, tornam-se agora objeto de destruição do novo obscurantismo. Ora, uma das perguntas que se pode fazer remete, en- tão, ao tipo de reação desencadeada no meio científico, onde não parece haver dúvidas de que predominam diferentes inter- pretações acerca do acontecimento em questão. Todavia, dada a eloquência dos ataques, pode-se dizer, comparativamente, que grande é ainda a dificuldade, por parte das diferentes áreas, em dar inteligibilidade aos recentes acontecimentos. A hipótese aqui desenvolvida é a de que, em larga medida, tal dificuldade advém da própria ascendência da modernização social, sob a atual produção epistemológica, a qual, entre seus efeitos, produ- ziria a desidratação do tempo presente como dispositivo eman- cipatório erguido pela modernização cultural. Embora resulte da singularidade neoliberal, que procura salvar o liberalismo da fracassada ontologia naturalista do laissez-faire , assegurando juridicamente o funcionamento do mercado – o que demanda um intervencionismo progressista do Estado, que então passa a funcionar como uma empresa (DARDOT; LAVAL, 2016) –, tal desidratação será analisada aqui como resultado da crescente desvinculação entre produção de conhecimento e forma social. Ou seja, com a emergência da nova economia do conhecimento, baseada na transmissão da informação, altera-se não apenas a própria natureza da ciência, das instituições pedagógicas e dife- rentes formas de consciência individual, tornadas, doravante, in- vestimentos rentáveis que devem ser mensurados, mas também sua própria relação com o que se poderia chamar de produção de sociedade . Do ponto de vista das economias pós-industriais, a produção epistemológica contemporânea já não deveria tratar tanto da esfera pública política ou da universalidade de direitos , mas do incremento de serviços e procedimentos operacionais que aperfeiçoem as organizações como agentes econômicos do capital (CHAUI, 2018). Trata-se da conjunção histórica em que as instituições passam a estar fundadas no axioma da empresa como paradigma de subjetivação, e o conhecimento orientado tanto pela autorreprodução organizacional quanto pelos ideais de aperfeiçoamento pessoal. Desse contexto, portanto, advém a aguda dissociação entre produção de conhecimento e forma so- cial, em que o retraimento da virtualidade do tempo, como subs-

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