Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Tiago Quiroga 58 trato de inteligibilidade dos saberes contemporâneos, constitui um de seus resultados práticos mais significativos. 3. Midiatização e modernização social A modernização social da qual tratamos não é exata- mente recente. A rigor, as bases da “guinada conservadora e neo- liberal [como] resposta política à crise econômica e social do re- gime fordista de acumulação de capital” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 189), identificada nos anos 1970-1980, com os governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, podem ser encontradas em situações históricas que a antecedem. É o caso, por exemplo, do Colóquio Walter Lippmann, em Paris, 1938, em apresentações de Louis Rougier, membro do Círculo de Viena e organizador do encontro, ou do próprio Lippmann, homenageado pelo se- minário, que defendem tanto um amplo processo educacional, que adapte os indivíduos para a inevitável economia de mer- cado, como um Estado capaz de “purificar o mercado concor - rencial através de um enquadramento jurídico cuidadosamente ajustado” (ibid., p. 69). Da mesma forma, tais ideais podem ser observados nos princípios pleiteados pelo ordoliberalismo ale- mão, especialmente naqueles de impulso sociológico, como o de Walter Eucken e Wilhelm Röpke, que defendem deveres e obri- gações dos indivíduos como condição de um Estado descentrali- zado, em que se deve ter em conta a crescente responsabilização individual como base do princípio de subsidiariedade entre as esferas locais, regionais e nacionais (DARDOT; LAVAL, 2016). E, finalmente, como uma das marcas mais contundentes do atual formato neo liberal, pode-se citar o pensamento austro-america- no de Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, que empreendem o viés comunicacional do conhecimento como fator decisivo para a economia de mercado. Para os autores, a “economia de mercado é uma economia de informação”, sendo a questão central “saber como os indivíduos vão poder tirar o melhor partido da informa- ção fragmentária de que dispõem” (ibid., p. 144). Segundo eles, cada indivíduo possuiria uma gama de conhecimentos incom- pletos e estruturalmente dispersos. Todavia, numa economia de livre troca, eles poderiam ser continuamente aperfeiçoados,

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