Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização e virtualidade nas ciências humanas: uma encruzilhada anunciada 59 posto que complementados pela intensificação da comunicação. A passagem implicaria reconhecer tanto o pragmatismo das no- vas práticas epistemológicas, sem qualquer exterioridade à au- toconstrução do próprio sujeito, quanto o imaginário da comu- nicação como princípio de livre troca econômica. No primeiro caso, tem-se o ideal de informação como sinônimo de um tipo de saber de que os indivíduos já não podem prescindir para vida em sociedade. De caráter prático, ele não apenas organizaria as instituições, mas, desde o desejo como importante ponto de inflexão, faria da autoconduta dos indivíduos um de seus alvos preferidos. Conhecimento aí seria aquilo “diretamente utilizável no mercado, relacionado às circunstâncias de tempo e espaço – o [...] que se refere não ao porquê, mas ao quanto [...] um indi- víduo pode adquirir em sua prática, e cujo valor só ele pode ava- liar” (ibid., p. 144). No segundo caso, sendo a base de toda uma economia da escolha, o imaginário da intensificação da comu- nicação (ilimitada) aponta para o aperfeiçoamento do próprio funcionamento do mercado, em que o domínio, o acúmulo e a livre troca de conhecimento (informação), a rigor, se constitui- riam modus operandi de multiplicação do capital financeiro. De uma forma ou de outra, em suas diferentes facetas, em que busca intensificar um tipo particular de ingerência do Estado sobre a economia de mercado, que já não subsistiria na- turalmente, mas artificialmente, o neoliberalismo encontra no viés comunicacional do conhecimento um aliado de peso. Na realidade, por ocasião da passagem do conhecimento à condi- ção de agente direto de acumulação das chamadas economias pós-industriais, eles se tornam inseparáveis. Segundo Marilena Chaui (2014, p. 92), pelo menos desde a década de 1970, tais economias passam a ser determinadas fundamentalmente pela substituição da “lógica da produção pela da circulação [...] da lógica do trabalho pela da comunicação”. Em ambas, a novida- de estaria na sociedade de mercado definida como sistema de transmissão de informações (OUELLET; MARTIN, 2018). 2 Tra- 2 De acordo com Ouellet e Martin (2018), a revolução epistemológica neoliberal, que passa pela ideia do mercado entendido como um “sistema cibernético de transmissão de informações”, tem como marco o trabalho de Hayek, em especial, o artigo “O uso de conhecimento na sociedade” (HAYEK, 1945). Segundo aqueles autores, o texto foi a base teórica que fundamentou uma série de financiamentos

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