Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Tiago Quiroga 60 ta-se de concebê-la como “um sistema cibernético que trans- mite informações aos agentes econômicos, os quais [seriam], eles próprios, pensados ‘como processadores de informação’” (Mirowski, apud ibid., p. 84; tradução nossa). Ora, dessa nova estruturação emergiria a articulação mais explícita entre o fenô- meno da midiatização e o tipo de produção que caracteriza hoje as economias pós-industriais. Redefinidas pelos ideais de infor- mação, tais economias já não podem prescindir da visibilidade e da circulação , como vetores efetivamente comunicacionais, fun- dantes do campo da produção. Em outras palavras, uma vez que a informação, como forma de autorreprodução do próprio capi- tal, viveria da necessidade tanto da intensificação de sua circula- ção quanto de sua livre troca, ela teria necessariamente no viés comunicacional seu modo predominante de estruturação. Dife- rentemente do laissez-faire , baseado numa atitude abstencio- nista, o neoliberalismo empreende uma forma de poder positivo que investe em produção imaterial, em que “mais informação e mais comunicação significam mais produtividade, aceleração e crescimento” (HAN, 2015, p. 18). Em síntese, entre as novida- des do neoliberalismo estaria o que Sodré (2014) denomina a dimensão organizativa da midiatização. Segundo ele, resultado dos recentes hibridismos da comunicação com a informação, a midiatização é o acontecimento que a insere no centro do ideal administrativo da transparência, em que emerge como “ideolo- gia mobilizadora de um novo tipo de força de trabalho, corres- pondente à etapa presente de produção das mercadorias por comando global” (ibid., p. 85). No cenário em questão, portanto, o conjunto das instituições passa a estar fundado nos vetores da circulação , sob os auspícios do tempo real, e da visibilidade , em que predominam as gramáticas da imagem. No primeiro caso, falamos da “fusão das telecomunicações com a informática [que] instaura a ditadura do tempo real e a imediatidade das respos- tas às exigências dos mercados financeiros” (GAULEJAC, 2007, p. 41); no segundo, das injunções ao que seria a eficácia do novo regime econômico acionário, que faz do eu fonte de voluntária sujeição organizacional. Ambos os vetores constituem a base de políticas públicas, em grande parte nos países industrializados, a partir de 1970.

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