Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Tiago Quiroga 62 produção de conhecimento que caracteriza as economias pós-in- dustriais. De todo modo, não falamos de qualquer midiatização, senão daquela que engendra o conhecimento como “gestao do co- tidiano tendo em vista os habitos de vida e os riscos que se corre” (ibid., p. 12). Em outras palavras, a midiatização como processo que articula um novo tipo de produção de conhecimento, entrela- çado ao dia a dia e no qual, segundo Paulo Vaz (p. 11), “os valores maiores [...] parecem ser, na relaço consigo, o bem-estar, a juven- tude prolongada, o autocontrole e a eficiencia; [...] valores [que] implicam o cuidado a partir do risco como fundo de negatividade a ser evitado”. Em suma, falamos aqui da midiatização como fenô- meno que circunscreve o conhecimento à autogestão da própria vida. Como afirma Agamben (2009), trata-se agora do contexto em que os homens já não enxergam outros propósitos históricos que não a sua autogestão. Por isso, a predominância de um tipo de inteligibilidade plasmada aos fluxos informacionais, que reifica a crença de que as experiências vividas já não podem ser pensadas , de onde parece se justificar a sensação de que “os acontecimentos [parecem estar] sempre à frente da possibilidade de que sejam interpretados pelos indivíduos, assim como o derrame social das tecnologias [parece] est[ar] à frente da sua interpretação pelas formas individuais e coletivas de consciência” (SODRÉ, 2014, p. 77). Circunscritas, portanto, às lógicas de otimização de resulta- do, as atuais práticas epistemológicas levam à fabricação de nar- rativas cada vez mais marcadas pela ausência de qualquer tipo de exterioridade que não o aperfeiçoamento individual ou a autorre- produção organizacional. Resultando tanto da “cientificizaço do cotidiano” quanto da simulação do futuro como importantes ve- tores de reestruturação do campo do trabalho, elas permanecem coladas à lógica enunciativa do tempo real. Todavia, por meio dos regimes de programação, o que se atrofia paradoxalmente é a pró - pria capacidade epistemológica de autodeterminação no tempo presente. Atreladas à velocidade, tais práticas fixam a experiência do tempo ao signo da disponibilidade (HAN, 2014b) e com isso têm dificuldade de recolher do devir histórico inflexões que sub - sidiem novas chaves interpretativas. Considerado um dos principais filósofos do século XIX, Hegel (1770-1831) afirma, em A ciência da lógica (HEGEL, 2012), que o devir da história é o resultado da permanente tensão entre

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