Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização e virtualidade nas ciências humanas: uma encruzilhada anunciada 63 o que é e o que não é. Embora aparentemente separados pelo movimento dialético, eles experimentam uma unidade, que na realidade sempre existiu, ainda que no campo das aparências figurem separados. Na tensão entre o Ser e o Nada , “cada um deles desaparece no seu oposto”, sendo esse o próprio devir da história (CHÂTELET, 1985, p. 52). Ora, fundadas no valor cons- titutivo da velocidade, as lógicas do tempo real já não toleram a presença de um outro que não seja sua própria intensificação. Assim, elas não apenas se desvinculam de qualquer experiên- cia de duração, necessariamente sustentadas na tensão dialéti- ca eu-outro, positivo-negativo, mas, sobretudo, acabam por não reconhecer, na temporalidade imanente ao próprio devir histó- rico, um espaço de inferência e construção de chaves prospecti- vas. De outra maneira, elas se vinculam agora ao hiper-realismo que, “mais real do que a realidade” (HAN, 2018, p. 111), já não nos demanda tanto discernimento, mas adesão aos seus senso- rialismos arrebatadores. Circunscrita à temporalidade do igual (HAN, 2014), tem-se então a atual figura histórica do sujeito es- pectral que, segundo Agamben (2009), resulta da ocasião em que os “processos de subjetivação e [...] de dessubjetivação pa- recem tornar-se reciprocamente indiferentes” (2009, p. 47). Um sujeito que vive do tempo simplesmente aditivo (HAN, 2014b) e que confina as temporalidades a um presentismo “penoso e desesperado” (HARTOG, 2019, p. 148). Segundo Hartog (2019), caracterizado pela vertigem do enclausuramento do tempo pre- sente ao regime do efêmero, o novo regime de historicidade – o presentismo – advém dos anos 1970 e responde tanto pela crise do futuro como horizonte revolucionário quanto pela atual con- solidação da corrida pelo imediato. “O futurismo deteriorou-se sob o horizonte, e o presentismo o substitui. O presente tornou- -se o horizonte. Sem futuro e sem passado, ele produz diaria- mente o passado e o futuro de que sempre precisa, um dia após o outro, e valoriza o imediato” (ibid., p. 148). Em resumo, por meio da contínua gestão do tempo presente, espécie de condição das economias pós-industriais, o paradigma emergente produziria um tipo de positivação do tempo que esvazia a noção de futuro como negatividade que necessariamente se subtrai aos nossos desejos de domínio pela linguagem. Em boa medida, a mudança ajuda a compreender uma época cujo conservadorismo encon-

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