Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Tiago Quiroga 64 tra na tecnologia um de seus principais fundamentos. Trata-se agora de uma inteligibilidade saturada de realismo que, a título de se salvar do desastre do tempo (VIRILIO, 2005), se define por uma atitude hostil para com o futuro, especialmente quando dos empenhos necessários às mudanças sociais no tempo presente. 5. Das gramáticas da imagem, o viés da visibilidade Em síntese, por meio da velocidade como forma práti- ca, o neoliberalismo esvazia o presente do vigor de sua virtuali- dade, isto é, de algum futuro já inscrito na ação humana, como condição emancipatória de diversos saberes, especialmente das humanidades. A questão nos parece particularmente relevante não apenas porque aponta para o problemático divórcio entre conhecimento e formas sociais necessariamente inacabadas , entre elas a própria democracia, mas também, e sobretudo, por- que inscreve a produção epistemológica atual no que se poderia denominar a gestão social do comportamento. Aqui, portanto, a centralidade do segundo vetor já mencionado: a imagem como dispositivo estruturante do campo da produção. Nossa proposi- ção é a de que, por meio das lógicas de reconhecimento ancora- das na visibilidade , o atual sistema produtivo consolida o eu como verdadeira mutação organizacional. Trata-se do contexto em que as organizações incorporam em seu espaço mais íntimo a lógica do “mercado financeiro como agente disciplinante para todos os atores da empresa, desde o dirigente até o assalariado de base: todos devem submeter-se ao princípio de accountability , isto é, à necessidade de prestar contas e ser avaliado em função dos re- sultados obtidos” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 201). A diferença é a naturalização da ideia de que os “sistemas de coação, tanto econômicos como sociais [...] [devem] obrigar os indivíduos a governar a si mesmos sob a pressão da competição, segundo os princípios do cálculo maximizador e uma lógica de valorização de capital” (ibid., p. 193). Em larga medida, tal naturalização é produzida pelos atuais dispositivos de poder que acrescentam às matrizes históricas do dever ou da obrigação aquelas da potên- cia (AGAMBEN, 2014). Ou seja, na cultura do empreendedoris-

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