Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização e virtualidade nas ciências humanas: uma encruzilhada anunciada 65 mo generalizado, o “poder [não se exerceria] como pura coerção sobre um corpo; [mas passaria a] acompanhar o desejo indivi- dual e orientá-lo” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 216). Nesse caso, a entronização da concorrência e a condução dos assalariados dar-se-iam menos por coações externas e mais pela “gestão por metas, avaliação de desempenho e autocontrole” (ibid., p. 228) em que se inserem a “motivação, o desejo de fazer melhor, de não se acomodar, a aspiração à realização individual” como fatores decisivos da empregabilidade (Drucker apud ibid., p. 228). A partir de então falamos de uma livre sujeição. Como se o indivíduo no âmbito da produção já não atendesse a fatores externos, mas ao contínuo aprimoramento de si mesmo (DARDOT; LAVAL, 2016), que faz de seu comportamento o fator capaz de le- vá-lo a bater metas e ter seu desempenho reconhecido. Com isso, toda uma complexidade socioeconômica se reduz a “problemas organizacionais, e estes se resumem [...] a problemas psíquicos relacionados a um domínio insuficiente de si e da relação com os outros” (ibid., p. 345). Equiparam-se, portanto, liberdade e de- sempenho, fazendo com que os indivíduos fiquem entregues a suas pulsões como crivo de produtividade. Na passagem ao novo disciplinamento do capital financeiro, o valor acionário de cada organização demanda “técnicas contábeis e avaliativas de gestão [que façam] comque cada assalariado seja uma espécie de ‘centro de lucro individual’” (ibid., p. 226). Daí decorre a condição central do comportamento na atual esfera econômica. Na nova violência aveludada do capital financeiro, “a fonte da eficácia está no indi - víduo: ela não pode mais vir de uma autoridade externa. É neces- sário fazer um trabalho intrapsíquico para procurar a motivação profunda. O chefe não pode mais impor: ele deve vigiar, fortale- cer, apoiar a motivação” (ibid., p. 345). Em suma, seria como se as instituições ficassem resumidas a processos psicológicos, e os indivíduos fossem os únicos a responder pelos riscos do próprio destino. Apenas de sua força de vontade e motivação dependeria sua capacidade de ser bem-sucedidos, de onde a máxima de que, a partir de então, “temos de nos conhecer e nos amar para sermos bem-sucedidos. Daí a ênfase na palavra mágica: autoestima , chave de todo sucesso” (ibid., p. 345). Em suma, as lógicas comportamentais não apenas in- serem o ethos da autovalorização (DARDOT; LAVAL, 2016) no

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