Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Tiago Quiroga 66 centro do processo produtivo, mas instauram a imagem como pressuposto do novo propagandismo social, fazendo com que os acontecimentos, como nos lembra Baudrillard (1991, p. 76), já não tenham tanto sentido “não porque seriam insignificantes em si próprios, mas porque teriam sido precedidos pelos mo- delos (simulacros) com os quais o seu processo não faz mais do que coincidir”. Dito de outro modo, nas palavras de Sodré (2014, p. 81), assim como acontece na “psicanálise [...] [quando] o códi- go recebe o nome de significante e este, por sua vez, precedendo o significado, submete o sujeito”, tem-se agora o apriorismo da imagem que, submetendo a consciência, torna-se “o suporte dos fenômenos ou dos enunciados”. Segundo Baudrillard (1991), portanto, entre os desdobramentos da ocasião em que “o sujeito como suporte dos fenômenos ou dos enunciados cede lugar ao código” (SODRÉ, 2014, p. 81) tem-se o feitio das imagens como espécie de juízo puro cujo efeito aponta ao vertiginoso aumen- to de nossa “paixão niilista pelos modos de desaparecimento do real” (BAUDRILLARD, 1991, p. 197). Tomado pela intensificação do sensorialismo generalizado, marca do hiper-realismo con- temporâneo, quando nossas percepções sensoriais passam a ser mais reais que o próprio o real − por isso passamos a demandar mais sensações para imprimir mais sentido de realidade a nos- sas coisas −, vai-se dando o desaparecimento do real em suas diferentes vias. Ora, o presente cenário aponta para uma profunda transformação da cultura reflexiva. No contexto dos mais recen - tes regimes de visibilidade, os ideais de conhecimento são orien- tados então pelo gerencialismo intelectual (GOULEJAC, 2007), legitimado agora pelos nexos da competição e do desempenho, como novas métricas universais. A rigor, ancorados nas lógicas do eu como sinônimo de eficácia organizacional, nos lançamos apaixonadamente à produção científica em que “a gênese social dos problemas, as situações reais, nas quais a ciência é empre- gada e os fins perseguidos em sua aplicação são por ela mesma considerados exteriores” (HORKHEIMER, 1975, p. 163). Com isso, inaugura-se uma espécie de obscurantismo transparente, fundado paradoxalmente em procedimentos científico-tecnoló - gicos, que nos cegam para destinos comuns na medida em que adotam tanto o tempo real quanto o ideal da imagem como prin-

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