Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Tiago Quiroga 68 é aquele que instala o protagonismo do tempo presente como própria divisa. Entre tradição e inovação, estaria a emergência do tempo presente como resultado da fusão de história e utopia , assim como dessa síntese, diz ele, pelo menos desde a Revolução Francesa, viveria nossa experiência de esfera pública. Segun- do o filósofo, de fato, é preciso reconhecer a crise das energias utópicas que nascem do entrecruzamento de dois movimentos emancipatórios: de um lado, a “fundação de formas de vida igua- litariamente estruturadas, que ao mesmo tempo deveriam libe- rar espaços de ação para a autorrealização individual e para a espontaneidade” (ibid., p. 224); e, de outro, as possibilidades de o “cidadão livre e com iguais direitos, estendido à esfera da pro- dução, poder se tornar o cerne cristalizador de formas de vida autônomas” (ibid., p. 226). Em resumo, a crise seria do modelo que vislumbrou atrelar prerrogativas de justiça social ao Estado democrático de direito. Tal esgotamento, todavia, não diria tan- to do desaparecimento total das utopias, mas daquelas vincula- das ao contexto do produtivismo universal. As utopias, segundo ele, fazem parte de importantes conquistas da modernização cultural , decisivas para nossa condição política e não deveriam ser confundidas com o tipo de modernização social que predo- minou até aqui. Por isso, a necessidade da compreensão tanto das atuais formas neoliberais no campo do trabalho quanto da diferenciação dos processos de modernização cultural e moder- nização social. Em larga medida, então, estaria aí a particularidade do tempo presente no âmbito epistemológico. Criado pela moder- nização cultural, ele se situa justamente na condição de passa- gem, entre possíveis rupturas com o passado e a espontaneida- de do futuro, condição em que se observa a presença de um tipo de virtualidade que lhe é intrínseco, ou seja, ao tempo presente pertenceria um tipo de negatividade , uma abertura ao indeter- minado, em que as coisas que ainda não são se tornam consti- tutivas das que já estão . Trata-se, portanto, do tempo presente como espaço da tensão positivo/negativo, eu/outro, que funda o devir da história (CHÂTELET, 1985). Ora, tal virtualidade pode ser considerada um marco para as ciências humanas. Consa- grada por sua dimensão emancipatória, ela orientou diversas respostas não apenas quanto à dialética entre conhecimento e

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