Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização e virtualidade nas ciências humanas: uma encruzilhada anunciada 69 forma social, mas, sobretudo, quanto à própria alteridade das ciências humanas – em larga medida, oriunda da experiência do tempo como autodeterminação humana. Trata-se do pressupos- to, especialmente caro às humanidades, de que foi o tempo, em particular o tempo presente, a virtualidade que lhes permitiu o elo com determinados projetos de liberdade. Elo possível em função da própria conquista da virtualidade do presente − não tanto na direção de exercícios de futurologia, mas de um tipo de abertura à espontaneidade do futuro, segundo nossa capacida- de, como afirma Agamben (2009), de repensar o presente . 7. Gestão social do comportamento Hoje, todavia, como forma de desafiar os preceitos defendidos por Habermas (2015), encontram-se os atuais pro- cedimentos de poder pelos quais o neoliberalismo renova sua influência sobre o mundo da vida. De modo mais específico, tais vetores atuam agora no agenciamento de uma nova racionali- zação do desejo (DARDOT; LAVAL, 2016) no campo do trabalho, que intensifica a saída da liberdade da figura histórica de con - tracoação (HAN, 2015). De acordo com Dardot e Laval (2016, p. 7), de fato, “o capitalismo é indissociável da história de suas me- tamorfoses [...], das estratégias que o renovam”. Por isso, dizem eles, um dos desafios hoje remete à compreensão de sua atual forma histórica. Trata-se de uma heterogeneidade morfológica que não diz tanto de representações ideológicas, mas de normas práticas de vida, centradas no autogoverno dos indivíduos. Para os autores, devemos pensar em uma nova racionalidade, carac- terizada pela “generalização da concorrência como norma de conduta [universal] e da empresa como modelo de subjetivação” (ibid., p. 17). Sob a influência da razão governamental de Michel Foucault, Dardot e Laval analisam o neoliberalismo como con- junto de dispositivos que já não lida tanto com instituições, mas com procedimentos de poder, técnicas de governar, as quais, de caráter transversal e sistêmico, atravessam domínios muito di- ferentes, desde relações sociais mais íntimas até ações gover- namentais globais. Tal natureza já não permite que falemos de campos sociais, mas de lógicas normativas que os atravessam e,

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