Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Tiago Quiroga 70 a rigor, são indiferentes a suas especificidades. A diferença agora estaria na forma com que tais lógicas atuam positivamente, pro- duzindo modos de viver que se reconheçam supostamente cada vez mais livres. Diferentemente da sociedade disciplinar, em que a domesticação dos corpos fez da liberdade figura de con - tracoação, a sociedade positiva tem na liberdade sua condição de possibilidade (HAN, 2015). Para ela, “governar não é gover- nar contra a liberdade ou a despeito da liberdade, mas governar pela liberdade, isto é, agir ativamente no espaço da liberdade dado aos indivíduos para que estes venham a conformar-se por si mesmos a certas normas” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 19). Dito de outra maneira, “longe de remeter à disciplina para alcançar o mais íntimo do indivíduo, [os governos visam agora] [...] obter um autogoverno dos homens” (ibid., p. 18). Trata-se, em suma, da ideia de que “governar é conduzir a conduta dos homens, desde que se especifique que essa conduta é tanto aquela que se tem para consigo [...] quanto aquela que se tem para com os outros” (ibid., p. 19). Ora, a novidade estaria na entronização da liberdade e do desejo como espécies de ativos pessoais, que independem das condições sociais e/ou institucionais, como os únicos capazes de nos levar aos atuais ideais de uma vida bem- -sucedida. Por isso, a partir deles, devemos assumir todos os ris- cos sobre nossos próprios destinos, o que significa dizer que a figura histórica do neoliberalismo é a responsabilização total do indivíduo por seus sucessos e fracassos. No campo do trabalho, portanto, o alcance do reconhecimento profissional dependeria do mérito de nosso empreendedorismo pessoal. Cada um de nós é a empresa ou ainda é uma empresa. Por isso, afirmam Dardot e Laval (ibid., p. 327), “o efeito procurado pelas novas práticas de fabricação e gestão do novo sujeito é fazer com que o indivíduo trabalhe para a empresa como se trabalhasse para si mesmo e, assim, eliminar qualquer sentimento de alienação e até mesmo qualquer distância entre o indivíduo e a empresa que o empre- ga”. Tudo isso faz com que o desejo e a liberdade se tornem o grande foco dos novos investimentos, das estratégias e dos mo- dos de adesão aos recentes formatos de trabalho. Trata-se agora de fazer boa gestão do desejo e da liberdade, regida pelo prin- cípio do prazer, em que o humor alegre e descontraído se torna sinônimo da estratégia gerencialista nas organizações (GAULE-

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