Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Midiatização e virtualidade nas ciências humanas: uma encruzilhada anunciada 71 JAC, 2007). Nesse contexto, portanto, “o sujeito unitário é o su- jeito do envolvimento total de si mesmo. A vontade de realização pessoal, o projeto que se quer levar a cabo, a motivação que ani- ma o colaborador da empresa, enfim, o desejo é [...] substituto dos dispositivos de direção de conduta” (DARDOT; LAVAL, 2016, p. 327). Naturalmente, segundo Dardot e Laval, essas novas for- mas de subjetivação e sofrimento resultam do enfraquecimento contínuo dos direitos do trabalhador; da fragilização das atuais formas de assalariamento; das simplificações da demissão; des - sindicalização; redução do poder de compra, etc. Em síntese, “na fragilidade do pacto [civilizacional representado pela crise ética do trabalho] o indivíduo é entregue a si mesmo e a seu fluxo pul - sional. Na ausência de outros [...], [vigora] a promessa de infini - tude, para os desejos, para as conquistas e... para os fracassos” (Bendassolini apud GAULEJAC, 2007, p. 13). 8. Conclusão O resultado é que no novo mundo do trabalho o com- portamento é conduzido à condição de substrato de acumula- ção do capital. Em larga medida, advém dessa condição o novo obscurantismo de que trata Habermas. Isso porque se juntam agora as duas pontas defendidas pelo neoconservadorismo: de um lado, o retorno do estigma cultural, “pois uma cultura que se tornou profana põe em ação atitudes subversivas; [e] contrasta [...] com a disposição à produtividade e à obediência [...] da qual dependem funcionalmente uma economia eficiente e uma admi - nistração estatal racional” (HABERMAS, 2015, p. 71); de outro, a defesa do neoliberalismo mais radical, capitaneada agora pelo Estado, que se desvincula e concorre com o próprio processo de- mocrático, dado o “desacoplamento mais forte entre a adminis- tração e a formação pública da vontade” (ibid., p. 227). Na lógica da eficácia, portanto, os meios se desvinculam dos fins, e com isso a democracia migra das narrativas do comum, mais alarga- das e marcadas pelo signo da causalidade, àquelas fragmentadas de oportunidade prática em que “o político [deve] permanecer avesso aos pontos de vista de justificação moral” (ibid., p. 80). A mudança traz implicações político-epistemológicas decisivas.

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