Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Pedro Gilberto Gomes 86 tecimento. Por exemplo, a imagem do atentado terrorista às Torres Gêmeas em 11 de setembro, uma das imagens que a au- tora analisa, foi inscrita na circulação e, sempre que acontece um novo atentado terrorista, somos remetidos a esta imagem e acontecimento. Segundo a autora, a imagem-totem resiste, supe- rando mesmo os espaços polêmicos gerados, o que implica dizer que esta imagem se torna uma estrutura estruturante ou, nas palavras de Bourdieu, um poder simbólico. Assim, o que chama a atenção no que tange à midiatiza- ção das imagens é que estas são, num primeiro momento, aproxi- mações do acontecimento, considerando, aqui, representações de um dado referente. Numa segunda fase, as imagens já postas em circulação emdispositivos jornalísticos se tornamsínteses porque foram eleitas previamente, de acordo com a lógica do campo das mídias que desdobram estruturas profundas do social (necessi- dade de pertencimento), para adquirirem tal visibilidade. Já numa terceira etapa, a do reconhecimento, são novamente organizadas conforme regras táticas próprias da esfera social, o que não signi- fica um contrato, mas envolve estruturas prévias de curto prazo, configuradas na distribuição e circulação, pois os símbolos trans- cendem o âmbito dos fenômenos da consciência individual. Isto é, o símbolo é construído em jogo, não por um ou outro jogador. Em outros termos, o símbolo que circula nos jornais, nas revistas, nos sites e blogs é fruto de interações. A noção de valorização das instituições jornalísticas se deve ao fato de que são elas que chan- celam as imagens a serem postas em distribuição e circulação, in- clusive quando diretamente impactadas e afetadas pelas demais esferas da midiatização 26 . Concluindo, Rosa afirma: As imagens-totens são imagens autorreferenciais que são produzidas na circulação, pois elas só existem nessa tramitação, mobilizando a tríade freudiana de lembrança, repetição e perlaboração em potência. A primeira diz respeito à lembrança efetiva do acontecimento, ou do trauma no caso da psicanálise; a segunda, a uma forma de não recor- dar, ou seja, uma espécie de impedimento à lem- 26 Cf. ibidem, p. 42.

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz