Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Epistemologia da comunicação, neomaterialismo e cultura digital 93 lar afetos individuais e coletivos ou estruturas de sentimento nos agenciamentos de humanos e não humanos (GRUSIN, 2015b, p. 125). O adjetivo radical permite falar de mediação envolven- do humanos e não humanos, colocando, portanto, a dimensão híbrida e materialista no seu entendimento. Todo processo co- municacional é resultado dessa mediação radical, entendida aqui como associativa, não essencialista/pragmática, material e não antropocêntrica, afastando-nos do pensamento da media- ção como emergente apenas de relações intersubjetivas. O con- ceito de mediação radical vai além da ideia de mediação como proposta pelos estudos de midiatização desenvolvidos por Coul- dry (2008), Hjarvard (2014, 2015), entre outros. Abordei em outro trabalho (LEMOS, 2019, no prelo) a ideia de mediação, indicando que para as sociologias pragmáti- cas ela absorve ações de humanos e não humanos, valorizando a materialidade dos objetos envolvidos em processos sociocomu- nicacionais. Chamando agora essa mediação de radical, pode- mos dizer que ela é o princípio dos processos de comunicação: ruptura de isolamento, trocas semióticas em entrelaçamento, “ser-enquanto-um-outro” (LATOUR, 2012), incluindo os objetos na equação. Naquela ocasião afirmava que precisaríamos avan - çar e pensar a comunicação como um processo associal , fruto dessa mediação radical, entendendo o social para além das re- lações interpessoais, indo além das trocas “entre consciências humanas” (MARTINO, 2001). O social é fruto das associações nesse coletivo de humanos e não humanos. A comunicação é as- sim um processo associal , fruto da mediação radical. Com essa ênfase, podemos pensar de forma mais completa e integrada como os humanos são agidos e agem no interior dos processos associativos sem retirar da equação agentes fundamentais para a compreensão desses processos (os objetos e suas materialida- des) (LATOUR, 2015). A compreensão da ação, da mediação e da comunicação se dá, nessa perspectiva, a partir de análises ima- nentes, descrevendo a ação de todos os actantes envolvidos na mediação (radical) em uma análise plana, sem recorrer a priori a explicações contextuais ou globais, por um lado, ou microsso- ciais e antropocêntricas, por outro.

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