Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

André Lemos 94 Retornando então às diferenças em relação à midia- tização, podemos dizer que a visão neomaterialista defende uma postura epistemológica oposta. Midiatização é entendida como um processo estrutural de influência das mídias (cultura de massa e controle da comunicação). Couldry e Hepp (2017) identificam como midiatização profunda a ação das novas mí- dias digitais. Os estudos de mediação se dedicam ao “impacto da mídia em situações comunicativas específicas situadas no tempo e espaço” (HJARVARD, 2015, p. 53) e os de midiatização a compreender “as transformações estruturais de longo prazo no papel da mídia na sociedade e na cultura contemporâneas” (ibid., p. 53). Para Hjarvard, mediação refere-se a “situações co- municativas específicas” e midiatização a “transformações es- truturais na sociedade”: Discussões internacionais recentes apontam para a resolução destas discordâncias terminológicas em favor da distinção europeia continental entre “midiatização” (denotando a dimensão estrutural de longo prazo) e “ mediação” (significando o uso da mídia em encontros comunicativos) […]. A mí- dia co-estrutura a comunicação e a interação (isto é, o nível da mediação), mas a midiatização ocorre através da institucionalização de padrões de inte- ração particulares (regras formais e informais) e alocação dos recursos interacionais no interior de uma instituição social ou esfera cultural em parti- cular (HJARVARD, 2015, p. 53-54). Certamente, o que os autores identificam como “impor - tância transformadora da mídia” ou “estrutura do modus operan- di das mídias” é resultado provisório e sempre a ser questionado de diferentes formas damediação radical. Couldry eHepp (2016) e Pink (2015) apontam para a necessidade de uma perspectiva não representacional , ou seja, não centrada na mídia ( non-me- dia-centric ), reconhecendo a necessidade de enfatizar aspectos materiais e sensórios das práticas midiáticas. No entanto, os es- tudos não são efetivamente materialistas, caracterizando o que apontaremos mais adiante como object-washing . Muitos estudos reduzem, como afirma Finnemann (2013, p. 298), a discussão

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz