Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Epistemologia da comunicação, neomaterialismo e cultura digital 95 material à questão da tecnologia . Outros propõem aliar midiati- zação a uma perspectiva mais materialista. Knorr-Cetina (2013, p. 41-41; 49) sustenta, na análise sobre as scopic media dos ope- radores do mercado financeiro, uma posição sintética , atenta a como as ações se enraízam nas práticas, nos espaços e nos obje- tos, indo além (melhor seria dizer, aquém) das infraestruturas. Processos comunicacionais midiáticos levam certamen- te a processos estruturantes (midiatização). O interessante, na perspectiva neomaterialista, é chegar a eles aos poucos, desenvol- vendo uma análise local e imanente que aponte os agenciamentos em ação. No caso da cultura digital, analisar fenômenos tais como a sociabilidade em redes sociais, as fake news , a prática do selfie , a questão do design e da privacidade na internet das coisas ( In- ternet of Things , IoT ), a cultura de plataformas, partindo de uma análise macrossocial da estrutura econômica do capitalismo de dados, ou pelo viés da comunicação entre humanos em situação específica, ofereceria pouca clareza sobre os desafios comunica- cionais atuais, pois não levaria em conta as materialidades e a agência dos objetos aí envolvidos (interfaces, lógica algorítmica, construção de banco de dados, princípios escondidos em docu- mentos técnicos e patentes, etc.). Quem posta quando postamos no Facebook? Pensar, nesse caso, em uma agência humana inde- pendente e soberana é investir em erro grosseiro. A perspectiva neomaterialista aplicada aos estudos da comunicação digital vai se perguntar como algoritmos, interfaces, dispositivos, leis, regulações, patentes, redes de comunicação, es- paços de uso, etc. constroem determinado fenômeno. Isso evita que deixemos esses elementos de lado em discursos que parecem dizer que reconhecem os híbridos, a técnica, a mídia, mas que de fato não dedicam tempo e atenção para descrever e analisar como esses objetos afetam os humanos e as relações daí advin- das. Perde-se nesse caso a visão do entrelaçamento, reduzindo o fenômeno ao contexto, à interpretação ou à estrutura por cima ou por baixo do humano – as “mediações e midiatizações”. Se Martín- -Barbero (1997) afirmava que deveríamos ir “dos meios às me- diações”, talvez agora devamos tomar a direção contrária. Portanto, posturas antropocêntricas, contextuais ou focadas em infraestruturas, por um lado, ou microinterações (entre humanos), por outro, não ajudam a entender as princi-

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