Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

André Lemos 96 pais controvérsias emergentes, como os novos objetos infoco- municacionais. Deve-se descrever e analisar a rede formada na controvérsia para identificar as formas de agenciamento dos elementos em jogo, destacando suas características materiais, não essencialistas, locais. O algoritmo das plataformas digitais contemporâneas não é caixa-preta, pois é possível entender não o que ele é (em essência), mas pragmaticamente sua agência, o que ele faz-fazer (BUCHER, 2018). Mapear, identificar e analisar as ações nessa comunicação associal é exercer um posiciona- mento mais míope, menos preocupado em generalizações cultu- rais ou sociais . Uma abordagem neomaterialista permite escapar da dicotomia estabelecida pela comunicação social em direção a uma comunicação associal , reconhecendo a particularidade da mediação radical. Na perspectiva material e pragmática, interessa saber que tipos de interface, leis, espaços, instituições, instrumentos, patentes, documentos técnicos, agência algorítmica, fichas e ou - tros elementos materiais em entrelaçamento produzem o pro- blema a ser investigado. Devemos nos perguntar como a rede é montada e como ela age, como elementos materiais entram em mediação e como o resultado se faz na produção desse entrelaça- mento, identificando afetações imanentes, focando localmente o problema, sem apelo a noções transcendentes, pagando o preço das conexões, reconhecendo poderes e relações de força no in- terior da experiência (LEMOS, 2018). Poder e desigualdades se produzem no interior das redes/ assemblages , eles tendem a se encapsular, mas não podemos congelar ou transferir uma análise para a outra, sob pena de perder a mediação radical localizada e emmovimento, que reconhecemos como essas estabilizações. Ronaldo Lemos (2019) escreveu um artigo na Folha de S. Paulo afirmando que não há opinião pública nas redes sociais por causa da ação de bots , algoritmos, interfaces. Parte-se do princípio de que o público e sua opinião não seriam produzidos, e sim desvelados por instrumentos neutros. Marres (2012), por exemplo, vai mostrar a partir do conceito de material participa- tion o papel dos objetos nas formas de mobilização e engajamen- to político. O mesmo na produção do público (LIPPMANN, 2007) ou sua opinião (TARDE, 2007). Para uma perspectiva neomate- rialista, a questão é como artefatos fazem emergir (produzem) o

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