Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

Epistemologia da comunicação, neomaterialismo e cultura digital 97 público e sua opinião, como eles aparecem agora nesse sistema sociotécnico algorítmico (diferente de sua produção pela ágora, iazza , imprensa, rádio, TV, etc.). Mais interessante do que saber o que é o público e sua opinião (em essência) é ver em que con- dições de agenciamento eles são construídos, discutidos, dis- seminados. Essa é a perspectiva não essencialista, pragmática, imanente, associativa e não antropocêntrica. 3. Metodologia neomaterialista da comunicação associal Propomos a seguir uma metodologia neomaterialista para ser aplicada aos produtos e processos da comunicação em geral, e da cultura digital em particular. Esse método sustenta-se na perspectiva epistemológica apresentada acima, insistindo em apontar as mediações radicais nos processos da comunicação associal. O pressuposto é que devemos reconhecer que nenhum elemento possui atributos essenciais e que eles só se definem em suas relações, nos agenciamentos, nas linhas de fuga, nos afetos, nas mediações radicais, portanto. É necessário partir de análises imanentes de documentos, práticas concretas, formas do discurso, lugares para identificar e descrever os elementos em mediação e as formas de afetação (transdução) na consti- tuição da controvérsia. Os humanos não estão em um lugar pri- vilegiado na circulação da ação, devendo dar importância aos elementos materiais e aos objetos em questão. Em síntese, a metodologia parte dos pressupostos ma- terialista – reconhece-se que tudo tem efeito material e existe por agenciamentos materiais – e não essencialista (pragmático) – as coisas não têm essências e são o que fazem e fazem-fazer. Esses pressupostos alinham-se a um empirismo radical para lo- calizar afetações nos problemas identificados. Tudo é definido nos processos e nos movimentos materiais em que cada novo problema convoca novas relações de força/poder associativas : tudo o que existe, existe em relação, precisa passar por outros para continuar seu caminho de subsistência. A associação é a mediação radical – tradução, transdução, agenciamento, entre- laçamento, etc. – envolvendo humanos e não humanos. Sem me-

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