Midiatização, polarização e intolerância (entre ambientes, meios e circulações)

André Lemos 98 diação não há nada. Ela deve ser observada em uma topologia plana, local e não antropocêntrica – análises devem ser feitas levando em conta múltiplos agentes, sob pena de purificar as relações e empobrecer as descrições dos fenômenos e a identifi - cação dos fluxos de ação. Humanos nem sempre têm a primazia da ação. Busca-se aqui ir além de perspectivas culturalistas, con- textuais, hermenêuticas. Sobre esse último princípio, identifiquei quatro tipos- -ideais que aparecem, de modo geral, em pesquisas, textos e palestras de viés antropocêntrico 6 sobre comunicação ou mídia digital (Maia, Object-Washing , Panopticum e Ouroboros), que descrevo a seguir. Maia: Textos que saltam para generalizações, sem ape- lo à empiria. O mundo material é uma ilusão. Devem-se evitar visões centradas na concretude dos fenômenos do mundo real. Não há mundo real, a não ser o dos conceitos. Object-Washing : Textos que dizem reconhecer a agência dos objetos, mas não o fazem com detalhamento. Dizem identi- ficar agências, mas saltam rapidamente para contextos. Podem reconhecer e afirmar o uso do WhatsApp para difundir fake news , mas não há análise sobre como a materialidade do WhatsApp, da rede, dos celulares, produz esse fenômeno. O objeto é assim. A expressão é similar a eco-washing , ethical-washing (KITCHIN, 2019), privacy-washing 7 , designando as posições de empresas que parecem considerar os problemas correlatos (ambiente, éti- ca, privacidade), mas que, de fato, não os levam a sério. Os estudos que fazem object-washing negam ser antropocêntricos, dizem re- conhecer a formação de híbridos, os dispositivos (como Foucault), as tecnologias, mas centram-se no sujeito, na estrutura, na herme- nêutica, nos contextos social e cultural , no ambiente midiático . 6 Pesquisas em andamento no POSCOM/Lab404 estão aplicando esses “ideais-ti- po” para auxiliar nas discussões da hipótese aqui levantada: a minha pesquisa “Comunicação, mediação e cibercultura” (PQ/CNPq) e a do professor Elias Bi- tencourt (“Comunicação, performatividade algorítmica e plataformas digitais. Investigações neomaterialistas acerca das experiências comunicacionais media- das por algoritmos na era do capitalismo de dados”). A indicação desses ideais- -tipo visa auxiliar na visualização do argumento geral do texto e não pretende ser uma forma de depreciação dos autores envolvidos. 7 Essa expressão está sendo usada em pesquisa sobre privacidade projetada e interfaces maliciosas ( dark patterns ) em desenvolvimento no Lab404.

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