Para não dizer que não falei das nuvens 101 De lá para cá, passaram-se duas décadas e as plataformas sociais norte-americanas tornaram-se verdadeiros im- périos globais de escala planetária. Recorro a um indício visual dessa transformação: as nuvens que eu caçava no Google Earth desapareceram. A imagem icônica da “bola azul” evoluiu de uma fotografia do planeta tirada a olho nu para uma colagem digital de milhares de imagens de satélite (Figura 2), que é a expressão visual de um novo olhar sobre a nossa autoimagem em termos planetários (Mirzoeff, 2016). Isso resultou na imagem sintética de um planeta sem uma única nuvem, de superfície lisa e transparente, onde tudo está visível, sem atmosfera, e onde nunca anoitece (De Carvalho, 2016); um planeta sem névoa (Wisnik, 2018). De um corpo celeste habitável, o planeta virou interface, tornou-se um planeta-imagem. 1. Entrando no nevoeiro Se antes a Internet era considerada o catalisador de uma grande transformação social de caráter distributivo, hoje ela se tornou um terreno tóxico, onde as lógicas da vigilância e da hipereficiência tecnológica geram injustiças e desestabiliza- ção democrática em escala planetária (Zuboff, 2019). Figura 3 – Visualização de redes de cabos de fibra ótica submarinos. Fonte: @tylermorganwall
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