Isabel Löfgren 102 No entanto, o que não está visível nesse planeta-imagem, por exemplo, são as transformações infraestruturais que susten- tam o complexo da Internet. É preciso um outro tipo de visualiza- ção para mostrar a gigantesca rede planetária de cabos de fibra ótica submarinos (Figura 3), revelando assim a materialidade da rede. Segundo Starosielski (2016), essa rede submarina faz par- te de um aparato comunicacional entranhado na natureza. São as tais “superinfovias” do ciberespaço, que habitam a escuridão do fundo do mar, cobertas de lodo e lama, e que a imagem de satéli- tes do Google Earth não consegue capturar. O que igualmente não é possível capturar a olho nu, ou mesmo com olhos mecânicos, são as imensas quantidades de dados que trafegam pelas redes submarinas, sendo armazenados e processados remotamente em “nuvens” de dados por milhares de data centers, estruturas con- tendo servidores, espalhadas pela superfície do planeta. Hoje, em vez de caçar nuvens no Google Earth, que já nem existemmais, passei a ser capturada pelas nuvens de dados, comminha vida privada administrada por aplicativos cujos “ter- mos de privacidade”, que assino sem ler, concedem às “Big 5” e toda sorte de intermediários uma total visibilidade e ingerência sobre minha existência, muito além da minha presença digital. Além disso, a vida pública passou a ser pautada pela disputa de ideologias nas mídias sociais, onde a normalização de discursos extremistas torna as sociedades instáveis, ao passo que serviços públicos são cada vez mais delegados a sistemas de inteligência artificial. As distorções políticas precipitadas por um “refluxo autoritário” e o “uso libertário do ciberespaço”, como descreveu Gilberto Gil há alguns anos (Cultura e Mercado, 2011), fizeram com que os algoritmos passassem de meros “funcionários” do aparato (Flusser, 1984) a agentes de manipulação política, que se aproveitam da lógica obscura das plataformas, inacessível à maioria dos usuários. Chamo a atenção aqui para o significado do termo “nuvem” no contexto digital e de dados. A “nuvem” de dados é um conceito de marketing criado por empresas de tecnologia para vender espaço de armazenamento de dados em servidores remotos situados em data centers espalhados pelo planeta. Essas estruturas gigantes armazenam e processam dados via Internet,
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