Isabel Löfgren 104 servidores e, consequentemente, mais recursos naturais para produzir a energia necessária para seu funcionamento. Para se ter uma ideia, o volume de dados criados, capturados, copiados e consumidos em escala global cresceu de 2 zettabytes em 2010 para 64,2 zettabytes em 2020 – ano em que a infraestrutura de dados planetária mais se expandiu, em parte devido à vertigino- sa digitalização durante a pandemia de Covid-19. Situação palpável em escala planetária durante a pandemia, em que me vi presa dentro do simulacro de Baudrillard, mas sem simulação (Baudrillard, 1981). Era uma vida virtual que não estava mais em relação dialética com o real, mas em uma substituição tota- lizante da realidade, onde os processos de midiatização e seus efeitos na vida cotidiana tornaram-se assustadoramente concretos e reais – e também muito lucrativos para a elite califor- niana, ou, como os denomina Caetano Veloso (2021), os “anjos tronchos” do Vale do Silício. Assim, nós também nos tornamos “funcionários” do aparato tecnoimaginário das “Big 5”, habitan- tes involuntários de suas “nuvens”. Em 2023, um ano após o fim da pandemia de Covid-19, esse número praticamente dobrou, atingindo 120 zettabytes, com previsão de alcançar 181 zettabytes até 2025, consideran- do principalmente a capacidade requerida para aplicativos de inteligência artificial, a Internet das Coisas, as criptomoedas e o metaverso (Statista, 2023b). E tudo isso é feito sem a consciência de que os dados são físicos e que armazená-los tem um impacto direto no meio ambiente (Parikka, 2016). Como apontou Frie- drich Kittler, um dos pioneiros do materialismo das mídias e da informação, quanto maior a digitalidade, maior a materialidade (Kittler, 1997), e, paradoxalmente, quanto maior a materialida- de, mais invisível ela se torna nos aparelhos como smartphones, que carregamos na palma da mão. Isso me leva a sugerir que, na era das grandes crises climáticas e planetárias, a materialidade é a mensagem. 2. O império da nuvem Portanto, essa nuvem, de vaporosa, nômade, imaterial e fugidia, como as nuvens reais sobre nossas cabeças, não tem
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