Para não dizer que não falei das nuvens 105 nada – a “nuvem” é puro hardware, hardcore. Zuckerberg, Gates, Bezos e Musk hoje possuem as maiores fortunas do planeta, sen- do que os dois últimos investem lucros bilionários em foguetes espaciais para turismo ou visando a colonização de Marte, a úl- tima fronteira de onde esperam extrair a próxima fonte de lucro em um cenário de pós-catástrofe. O termo off-shore, tão próprio da era da globalização, virou off-planet. Figura 5 – Still de vídeo da música “Anjos tronchos” de Caetano Veloso (2021). Fonte: Vevo.com Assim sendo, falo de “dentro do nevoeiro”, para usar a apta metáfora de Guilherme Wisnik (2018) para entender os imaginários sociotécnico, político e cultural do nosso tempo. É como se eu estivesse dentro de um avião sem janelas, lançan- do-me em alta velocidade em um tempo e espaço turbulentos e de contornos indefinidos. Mas, dentro desse avião, não há outros passageiros reais. Seu interior se parece mais com uma sala de espelhos, igual àquela no videoclipe da música “Anjos tronchos” de Caetano Veloso, lançado no meio da pandemia Covid-19 em 2021 (Figura 5). Na toada de um rock psicodélico e melancólico, o cantor se embate com a sua própria imagem distorcida e fragmentada sobre um fundo preto e infinito (Figura 5), e canta,
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