Isabel Löfgren 106 Uns anjos tronchos do Vale do Silício Desses que vivem no escuro em plena luz Disseram vai ser virtuoso no vício Das telas dos azuis mais do que azuis Agora a minha história é um denso algoritmo Que vende venda a vendedores reais Neurônios meus ganharam novo outro ritmo E mais e mais e mais e mais e mais [ U … m ] post vil poderá matar Que é que pode ser salvação? Que nuvem, se nem espaço há Nem tempo, nem sim nem não Sim nem não. Nesse desencanto líquido e cansado, todo o conjunto de infraestruturas e de aplicativos antes vistos com um otimismo utópico tornou-se, hoje, um império verdadeiramente autocráti- co, e que, quando consideradas em escala planetária, constitui o que Couldry e Mejías (2019) e Lehdonvirta (2021) chamam de “o império da nuvem”. Em vez de “infovias” utópicas, cada vez mais usamos metáforas de controle como “capitalismo de vigilância” (Zuboff, 2019), aproximando-nos das profecias biopolíti- cas de Foucault com suas dinâmicas próprias de administração da vida e do planeta. O ser contemporâneo encontra-se dentro de um jogo de continuidades e descontinuidades no embate en- tre as interioridades obscuras dos algoritmos e as exteriorida- des eficientes das plataformas. Confrontam-se dois modelos constitutivos das relações entre visibilidade e subjetividade: de um lado, o espetáculo pa- nóptico da nuvem de dados que tudo vê e, do outro, o espetáculo midiático que nos explora como massa de manobra e nos coloca dentro de um nevoeiro midiático que ofusca a realidade. Como fomos parar nesta sala de espelhos? E como faremos para sair deste nevoeiro? Como nos lembra Heidegger (1949), não podemos controlar diretamente os recursos natu- rais, econômicos ou tecnológicos; apenas podemos controlar a
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