Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Para não dizer que não falei das nuvens 107 maneira como nos orientamos, pensamos e agimos em relação a eles. Minha proposta neste ensaio é lançar algumas considera- ções planetárias sobre a midiatização, buscando compreender qual é o papel e quais são os efeitos do complexo de tecnologias da informação e comunicação na habitabilidade do planeta durante o Antropoceno – a era geológica em que o ser humano exerce influência significativa sobre a vida no planeta. Para nos guiar nessa questão, utilizarei uma perspectiva neomaterialista de orientação ecológica, que integra um movimento mais am- plo e enfatiza a importância da materialidade tecnológica – às vezes descrita como a “virada material” – na pesquisa em mídia e comunicação (Reichert e Richterich, 2015). A abordagem neo- materialista enfatiza as dinâmicas das redes em interação com agentes humanos e não humanos, como no campo da ecologia das mídias e na teoria ator-rede (Latour, 2005), além das linhas de pesquisa do “materialismo digital” e da Escola de Berlim, com Friedrich Kittler à frente. No entanto, o objetivo deste artigo não é mapear esse vasto território teórico, mas sim lançar conside- rações sobre como nos orientar diante da questão planetária no campo de estudos da midiatização. 3. A virada planetária na midiatização A midiatização se tornou um conceito fundamental para teorizar como nossos ambientes midiáticos, em constante evolução e intensificação, influenciam processos sociais, e como esses processos, por sua vez, influenciam os meios (Krotz, 2007; Lunt e Livingstone, 2016). A midiatização estuda, fundamental- mente, tanto as mudanças nos meios quanto as mudanças na sociedade, na cultura, nas instituições e também nas materialida- des, em termos de metaprocessos. Segundo Krotz (2007, p. 15), o conceito de metaprocesso descreve e explica teoricamente as diversas dimensões e níveis econômicos, sociais e culturais es- pecíficos de mudanças reais. Como tal, a midiatização, enquanto metaprocesso, tangencia outros metaprocessos, como a globalização, a individualização, a comercialização e, também, a plane- tização (Boff, 2017), como veremos mais adiante.

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