Isabel Löfgren 108 No entanto, Kannengiesser e McCurdy (2021) identificam um ponto cego conceitual fundamental no campo de es- tudos da midiatização, que nem sempre reconhece ou teoriza adequadamente as consequências socioambientais dos próprios processos que estuda. Segundo os autores, os “ambientes” dis- cutidos em obras canônicas sobre midiatização raramente se referem a ambientes materiais, limitando-se a “ambientes de mídia”, entendidos como “todo o corpo de mídia disponível em um determinado momento” (Hasebrink e Hölig, 2014). Por outro lado, o campo da ecologia das mídias (media ecologies, em inglês) não apenas reinterpretou o termo “ambien- te”, como também o próprio termo “ecologia” – usando-o não no sentido tradicional de estudar a relação entre a biodiversidade e o meio ambiente, mas como metáfora para o “ambiente das mídias”, baseada na falsa premissa de que os processos sociais espelham os processos ecológicos, como alertam Maxwell e Miller (2012). Kannengiesser e McCurdy (2021) apontam que essa lacuna teórica está sendo preenchida por um conjunto de pers- pectivas ecocríticas. Os autores sugerem que os pesquisadores reconheçam os processos materiais e naturais planetários como um aspecto fundamental dos processos de midiatização, para compreender como as transformações sociais, culturais e dos meios estão interligadas com questões planetárias. Eles exem- plificam com o impacto das mudanças climáticas na sociedade e o impacto dos ambientes midiáticos, e suas materialidades, no planeta e suas consequências (p. 920). Há, portanto, um campo vasto a ser desenvolvido na perspectiva socioambiental, onde as dimensões materiais da midiatização e suas implicações socioculturais possam ser con- sideradas. Existem pesquisas significativas de viés materialis- ta sobre, por exemplo, os recursos integrados e dedicados às tecnologias das mídias; a energia necessária não apenas para a produção de dispositivos de mídia, mas também para os pro- cessos de apropriação e visibilidade dos meios midiáticos; e a perspectiva dos resíduos dos meios, como o lixo eletrônico ge- rado pelo enorme acúmulo e a descartabilidade dos aparelhos e infraestruturas comunicacionais (Maxwell e Miller, 2012). Essas perspectivas tratam, de forma geral, das exterioridades ma- teriais como equipamentos, aparelhos e rastros industriais do
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz