Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Para não dizer que não falei das nuvens 109 complexo tecnológico das mídias, que, no caso, estão ligados a questões ecológicas, como a redução de danos, o lixo eletrônico e o uso de energia. Gabrys (2015) sugere analisar as materialidades digitais e suas infraestruturas de forma processual, e não apenas como uma propriedade inerente ou mero substrato residual das mídias e dos meios. Sua proposta é fazer a ponte entre aquilo que é mediado e suas realidades materiais, levando em conta impactos socioambientais. Essa visão da materialidade como um processo, e não apenas como edificações, instituições, produtos ou tecnologias, vai ao encontro da conceituação da midia- tização como um metaprocesso (Krotz, 2007). Isso nos permi- te ver os “ambientes” como “ambientes-meio”, onde elementos materiais – tanto tecnológicos quanto naturais – têm profundas implicações na geração e circulação de sentidos. Uma forma de remediar esse ponto cego nos estudos da midiatização é incorporar perspectivas neomaterialistas com foco nos elementos e nos ambientes enquanto ator e agente, e não apenas como suporte. Por exemplo, uma maneira de estudar a magnitude da rede planetária de fibra ótica submarina é focar no espaço marítimo por onde passam esses cabos, e não apenas na história dos cabos de fibra ótica em si como meio de transporte da internet (Starosielski, 2016). Ou estudar a midiatiza- ção do espaço aéreo dos sinais de satélite e das antenas através da midiatização do elemento “ar”. Nessa vertente, seria possível compreender o crescimento da Internet e de seus aparatos lo- gísticos em escala planetária por meio das práticas extrativistas de metais como o cobre, considerando o complexo de extração desse minério como parte das práticas históricas de acúmulo de capital (Arboleda, 2020). Esse foco nos “elementos” (como metais, átomos, ar, água, mar, nuvens, etc.), conforme sugerido por Starosielski (2015), é denominado por Durham Peters (2015) como “meios elementares” (“elemental media”), referindo-se aos elementos naturais como meios. Isso nos leva a pensar nos ambientes na- turais como meios de comunicação, ou seja, como “ambientes- -meio”. Segundo Durham Peters, diversos elementos naturais podem ser considerados meios em si mesmos, pois eles também carregam, produzem e circulam significados e sentidos. Essa

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