Isabel Löfgren 110 ideia é particularmente relevante para os estudos de midiatização, em particular na linha veroniana, com seu foco nos proces- sos de circulação de sentidos. Dentro dessa perspectiva elementar, o “sentido” não é apenas uma propriedade da linguagem ou do significado; é também um processo fisiológico de receber e reconhecer sensa- ções e estímulos produzidos através dos sentidos (visão, olfato, temperatura, pressão, etc.), o que implica uma corporificação dos significados e sentidos através das materialidades. Assim, a proposta é utilizar a palavra “sentido” nessas duas direções, linguístico-simbólica e fisiológica, de forma interdependente, sem a necessidade de separar o que é linguagem (do humano) do que é fenômeno (do não humano). 4. Os sentidos e as nuvens Figura 6 – Nuvem de fumaça sobre a cidade de São Paulo, decorrente das queimadas na Amazônia, 20 de agosto de 2019 O elemento nuvem, tanto como ambiente quanto como meio, ajuda-nos a compreender fenômenos ligados às materia- lidades, tanto internas quanto externas à comunicação, além de processos tecnológicos, sociais, políticos e, principalmente, ecológicos (Durham Peters, 2015). Um exemplo ilustrativo é a nuvem negra que, em agosto de 2019, resultante das queimadas na Floresta Amazônica no norte do Brasil, obscureceu a cidade de São Paulo, no sudeste, em plena luz do dia. De re- pente, o dia virou noite. Essa nuvem de fuligem é um indicador tangível da destruição material da floresta, um símbolo das po- líticas devastadoras do governo Bolsonaro (2019-2022) e um significante do imaginário econecropolítico daquele governo. A nuvem negra circulou esses significados materiais e simbó-
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