Para não dizer que não falei das nuvens 111 licos por milhares de quilômetros, criando um senso comum compartilhado através de relatos em diversas mídias, primeiro como notícia e depois como discurso. Nas mídias sociais, circu- laram narrativas de proteção ao meio ambiente com a hashtag #SOSAmazônia, enquanto, por outro lado, o governo Bolsonaro disseminava o negacionismo em relação às pautas climáticas, com o ministro do Meio Ambiente alegando que se tratava de fake new W s. isnik (2018) argumenta que a nuvem, ou melhor, o nevoeiro, é “uma metáfora crucial para se pensar a transformação do cotidiano pela tecnologia” (p. 22). Ele exemplifica com o movimento incessante do capital financeiro pelo mundo, que também pode ser entendido como se ocorresse em “nuvens” (p. 22). Essa metáfora pode ser estendida às nuvens de dados, for- madas por um complexo de atores e procedimentos nas diversas camadas de geração, armazenamento, processamento, análise e distribuição de dados (Figura 7). Embora sejam materiais, essas camadas nos dão a sensação de imaterialidade através de soft- wares, aplicativos e notificações nas interfaces de usuário. Assim, a nuvem é uma força que obscurece as camadas do sistema, criando um nevoeiro envolto em mistérios que nos impede de compreender plenamente suas lógicas. Além disso, as nuvens de dados não possuem apenas características funcionais; elas também têm uma camada de análise preditiva que utiliza inteligência artificial (IA) – com seus algoritmos e modelos de linguagem – para extrair conhe- cimento dos dados. A nuvem então nos devolve essas previsões em forma de relatórios (“analytics”) sem ruídos e com baixa latência, eliminando a fragmentação dos dados e otimizando sua exteriorização através da análise automatizada de padrões de alta performance. Nesse sentido, a IA pode ser vista como um instrumento óptico, semelhante a um raio-X, pois “vê através” das diversas camadas da nuvem, organiza e devolve sentido. Em outras palavras, a inteligência artificial tudo vê para poder prever, sendo, portanto, uma tecnologia do olhar (Amoore, 2018).
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