Para não dizer que não falei das nuvens 113 cessário para garantir nossa subsistência ocorre longe da nossa experiência urbana cotidiana ou é realizado por outros. Sugiro, portanto, que liguemos a Internet aos territórios dos quais ela depende para existir, em vez de considerá-la apenas em termos do que “precisamos” para viver em sociedade, como o uso das mídias sociais na perspectiva de consumo. Parafraseando Ailton Krenak (2020), a Internet não é algo que possamos comer. Neste contexto, é útil trazer o conceito de “política ter- restre” de Latour (2018), que considera o planeta Terra um ator político. Isso implica ver a Terra como um sujeito commaterialidade própria e entender que essa materialidade amplia o escopo das questões políticas ao integrar o mundo social e o natural em uma rede de interações (Latour, 2018, p. 87). Diferentemente do imaginário moderno, que se baseia em instituições políticas, econômicas e midiáticas estabelecidas, o imaginário terrestre ainda não possui instituições formais. A natureza não mede, pensa ou se expressa em nossos termos. E, ao contrário da presumida desconexão ocidental entre natureza e cultura, a dimensão terrestre, na visão de Latour, sugere uma cosmologia política baseada na colaboração e proximidade, em contraste com as divisões e disputas fomentadas pelas insti- tuições de governança nos níveis mais elevados (Latour, 2018, p. 88). Do ponto de vista da organização econômica e social, o “Terrestre” se distancia da lógica de produção e acumulação sem fim, incluindo a produção acelerada de informação e comunicação, em direção a uma lógica de interdependência, cooperação e reciprocidade. No contexto das questões climáticas, essa pers- pectiva enfatiza a simbiose entre humanos e não humanos. Ontologicamente, a dimensão terrestre desfaz a distinção moderna entre humanos e não humanos, redefinindo assim o conceito de “materialidade”. Dentro dessa visão, como definimos o território? A noção de território não se limita a fronteiras nacionais, mas abrange tanto territórios naturais quanto aqueles definidos pelas comunidades e povos que os ocupam. Segundo Estrada e Lehuédé (2022), o território é “uma abreviatura para o sistema de relações cuja reencenação contínua recria a comunidade em questão” (p. 3). Em um sentido mais amplo, o território também representa formas de agrupamento e resistência contra a mo-
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