Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Isabel Löfgren 114 dernidade capitalista extrativista, especialmente em áreas de extração de minerais como o lítio, essencial para a fabricação de componentes técnicos que sustentam a infraestrutura da In- ternet (Svampa, 2016). Esses recursos são geralmente extraídos de zonas remotas, como áreas marítimas, rurais ou florestais, e circulam no mercado global como commodities valiosas. Portan- to, a concepção de uma “Internet Terrestre”, conforme sugerem Estrada e Lehuédé (2022), está intrinsecamente ligada a esses territórios onde circulam concepções, imaginários e cosmolo- gias de povos indígenas, afrodescendentes, camponeses e outros grupos envolvidos em lutas sociais, incluindo feministas, que consideram o corpo como território – onde a defesa do território é sinônima da defesa do corpo. Nessa perspectiva, a noção de desenraizamento e mo- bilidade, fundamentais para a modernidade, contradiz a visão terrestre da Internet, onde questões de pertencimento, tradicionalmente ligadas ao nacionalismo e ao etnocentrismo, as- sumem uma dimensão extraterritorial, de baixo para cima. Em outras palavras, o pertencimento deixa de ser apenas cultural ou social e se torna ambiental. Visto da perspectiva dos corpos diretamente envolvidos na raiz do complexo infraestrutural da Internet, como, por exemplo, as populações indígenas em todo o planeta que habitam territórios de extração de minério, o per- tencimento ambiental possibilita um vínculo solidário entre di- versos territórios, com uma visão compartilhada de futuros em que os laços comunitários são fortalecidos. Esse imaginário fun- ciona como “algoritmos sociais” que operam na pulsão de vida, em vez de morte. Para esclarecer, seria produtivo observar cosmologias indígenas não como um retorno a um tempo prévio ao contato com a sociedade colonial, mas como sobrevivências que coexistem com os avanços capitalistas, tanto materiais quanto epistê- micos. Essas cosmologias podem indicar caminhos já trilhados que os intelectuais ocidentais estão apenas começando a descobrir (Demos, 2016). O que Latour (2018) propõe pode já estar presente em cosmovisões historicamente silenciadas ou classi- ficadas por antropólogos como “primitivas” e, portanto, descartadas pelo imaginário industrial ocidental. No entanto, é impor- tante lembrar que o desenvolvimento industrial e tecnológico

RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz