Isabel Löfgren 116 essa visão unificadora da globalização, onde a Terra, aparentemente passiva e unitária sob domínio humano, é utilizada para explorar a dispersão política e econômica. A política terrestre busca ressignificar a geopolítica com uma dimensão planetária, implicando uma mudança de uma política centrada no ser hu- mano para uma política centrada na Terra. Embora essa “virada planetária” ilumine as contradições da modernidade, onde a Internet é um produto essencial- mente moderno, o trabalho de Latour tem sido criticado por ignorar, por exemplo, as vozes indígenas que sustentam ontologias alternativas do mundo e do planeta, já alinhadas com essa concepção de política terrestre, mas sistematicamente ignora- das, silenciadas e dizimadas pelo imaginário moderno e suas raízes coloniais (Tallbear, 2013; Todd, 2014). 7. Saindo do nevoeiro Para sair da sala de espelhos e ver através do nevoeiro, seria fácil cair na armadilha das promessas libertárias da cos- mologia dos “anjos tronchos” californianos e enfrentar os problemas da tecnologia commais tecnologia – que apenas nos leva a otimizar nossos eus de forma superficial e transformar nossas vidas em meros posts, que, por sua vez, alimentam as nuvens de dados e, por conseguinte, consomem mais recursos naturais, geram mais poluição ambiental. Para romper com essa ilusão, é preciso buscar uma saída desse ciclo vicioso. Isso exige redes de solidariedade e a recuperação de uma “imaginação política”, como propõe Nan- cy Fraser (2009), que nos permita transcender as realidades políticas atuais e desafiar o conformismo imposto pelas redes. Rodrigo Nunes (2021) mostra como assemblagens alternativas, tanto horizontais quanto verticais, são possíveis, o que aponta para a necessidade de reimaginar não só o aparato técnico, mas também o aparato organizacional e político, assim como as es- tratégias criativas e afetivas dos nossos tempos. Isto corrobora o que Gilles Deleuze e Félix Guattari escrevem: “Não nos falta comunicação, aliás há demasiado. O que nos falta é criação, uma resistência ao tempo presente” (ap. Lovink, 2022, p. 8).
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