Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Para não dizer que não falei das nuvens 121 habitar na presença do oponente ou incorporá-lo em si, formando assim um outro ser que entrona- rá as batalhas, virtudes e vibrações de ambos. […] Talvez seja por isso que o caboclo fez da palavra a sua flecha, que sempre há de encontrar o alvo. Caboclo brada, vira bicho, desata o nó do tempo e escreve parte do seu saber no nevoeiro da fumaça. 8. Por uma filosofia comunicacional do cuidado Minhas observações vêm de alguém da Geração X, que, em grande parte, criou a Internet como ela é hoje. Fomos nós, em nossas start-ups no virar do milênio, que estabelecemos as bases da Internet atual. Apesar das boas intenções, criamos um monstro. Mas, para a Geração Z, a primeira nascida com a Inter- net como seu ambiente natural, o desafio é pensar em uma In- ternet que não onere o ser, a sociedade ou o planeta. Espero que, nessa geração, surjam imaginários sociotécnicos desvinculados da “superinfovia” da rapidez ou da simulação do metaverso. A questão para essa geração é: como resgatar o “tecnossocial” das mãos do ethos californiano, como Geert Lovink (2022) pergunta em seu manifesto “Extinction Internet”, “sem recair em romantismos offline ou comunalismos defensivos?” (p. 10). Dado que as redes estão profundamente enraizadas em nossas vidas, Lovink sugere resgatar o sentido do comum para enfrentar questões urgentes, como transformar o planeta ou, ao menos, “levar uma vida digna e sã nessas redes que tanto amamos” (p. 8). Para isso, é necessária, a meu ver, uma filosofia de cuidado comunicacional, como propõe Muniz Sodré (2014), reinterpretando o verbo comunicar como uma ação de vincular e organizar o que há de comum. Sodré propõe uma ontologia da comunicação que vai além das práticas funcionalistas, invocando o conceito de comunidade, do ser-em-comum, como base para projetar um futuro compartilhado. Só porque estamos inseridos nas redes planetárias e engolidos pela nuvem, isso não significa que estejamos comple- tamente dominados por ela. Ao olharmos para a questão plane- tária e o ambiente-meio, podemos ter uma melhor compreensão

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