Vozes pós-migrantes em tempos de hipervisibilidade 129 grande público. No entanto, sua “escuta” é altamente seletiva e tem como base os seus próprios modos de operação (Luhmann, 1995/1984). Como a mídia pós-migrante opera na periferia do cenário midiático, ela quase não é notada pela mídia hegemônica em comparação com outras mídias corporativas ou em com- paração com o sistema econômico e político, que recebem ampla cobertura (Graf, 2009). A questão, assim, é como é possível para ela reconhecer e reagir à produção midiática da periferia. Este artigo explora como as vozes pós-migrantes, usan- do um podcast como exemplo, tornam-se relevantes na esfera pública ao olhar para as comunicações conexas, sendo que “co- municações conexas” se refere a como a mídia corporativa (he- gemônica) reage a esta produção midiática explorada aqui. Em primeiro lugar, exploro os tópicos do meu exemplo de produções midiáticas feitas por migrantes, porque represen- tam o que pode ser, de acordo com os produtores, de interesse para o público. Além disso, concentro-me no meio podcast por estar crescendo em popularidade devido às poucas barreiras tecnológicas e financeiras para entrada/adesão e ao grande número de oportunidades que ele oferece. Em segundo lugar, ob- servo as reações das mídias hegemônicas que, de alguma forma, mencionam esta produção. 2. Podcasting O ano de 2019 é tido como o início da “era da Grande Produção de Podcasts”, quando grandes companhias como Spo- tify e Apple começaram a adquirir estúdios de podcast e plata- formas de publicação. As duas agora são líderes globais como produtoras de podcasts (Quah, 2019). Do lado da audiência, a ampla adoção de smartphones facilita a audição de podcasts, mesmo “em trânsito”. É por isso que, ao procurar por vozes mi- grantes, não foi surpreendente encontrar muitos podcasts dife- rentes produzidos pelo grupo pelo qual me interesso. Entretanto, como Vrikki e Malik (2019, p. 274) sustentam, não se trata somente da tecnologia, mas também da neces- sidade de se pronunciar, de debater questões que geralmente são marginalizadas na mídia hegemônica. Com sua abordagem
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