Processos midiáticos: transformações do discurso religioso no contexto da algoritmização 157 Para ela, devemos mergulhar no virtual para compreender o real. Esses dois mundos, real e virtual, são separados por um modelo, uma representação matemática e algorítmica da realidade. Compreender o funcionamento desse modelo é compreender o que religa esses dois mundos (p. 20). Nesse sen- tido, ela afirma: “Mergulhar num mundo virtual numérico para responder àquelas questões que ninguém havia conseguido responder no mundo real: a perspectiva é emocionante” (Jean, 2019, p. 6 P 7 o ) r . que mergulhar no virtual para compreender o real? Até os inícios do Terceiro Milênio, o desenvolvimento técnico tinha como objetivo responder às necessidades da sociedade. Logo, era a realidade que ajudava a compreender a técnica. Para sintonizar com o sentido do desenvolvimento tecnológico, im- punha-se conhecer profundamente o humano e suas carências. Parafraseando Aurélie Jean (2019), podemos dizer: mergulhar no real para compreender o tecnológico. Essa era a grande emo- ção humana. O desafio era promover uma inflexão tecnológica para tornar mais fácil a vida sobre a terra. A exacerbação dessa postura trouxe consigo consequências desastrosas para o meio ambiente. Apesar disso, o processo continuou impávido, sem ser questionado. Hoje, a preocupação não é tanto com a inflexão tecnoló- gica, mas com a inflexão digital. Mais que redes sociais (cada vez mais espraiadas pelo planeta), afirma-se a criação de uma nova ambiência, onde a vida humana é condicionada pelo desenvol- vimento dos algoritmos. Isto é, através das tecnologias digitais busca-se construir o real, não o compreender. Eric Sadin (2018) chama de humanidade aumentada a administração digital do mundo. Para ele, está havendo a emer- gência de uma cognição artificial superior (2018). Antes, havia tratado da inteligência artificial, buscando a anatomia de um an- ti-humanismo radical (2016). A vida algorítmica e a silicoloni- zação do mundo precederam e prepararam a discussão sobre a digitalização do mundo (2015 e 2016). No primeiro caso, realiza a crítica da razão numérica. No segundo, analisa o que chama de irresistível expansão do liberalismo numérico. A inflexão digital traz três tipos de relações comuni- cacionais: comunicação através da máquina, comunicação ho-
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