Jairo Ferreira 16 (de forma crítica), ainda na esteira dos debates originados em Pierre Lévy e Kerckhove (1999). A plataforma já é vista como meio de inovação tecnológica em novos patamares da mercan- tilização da informação e comunicação, ampliação do poder midiático e transnacionalização dos fluxos, concentrando-se no que viria a constituir os grandes grupos ocidentais e chine- ses atuais (Miège, 2016), decorrendo daí uma reflexão sempre atualizada sobre a regulação, considerando inclusive as trans- formações das relações entre espaço público e privado. Patrice Flichy (2016) é central nas hipóteses e formulações sobre os amadores. Por um lado, Flichy nos traz o pensar as relações entre imaginário social (não restrito às elites, intelectuais e especialistas) e processos midiáticos, na medida em que dá sentido e organiza as práticas, integrando, ao mesmo tempo, utopia e ideologia –, atravessando os pro- cessos de inovação tecnológica, sendo aberto a possibilidades, conversações e construções sociais. Em outro eixo, Flichy si- tua o indivíduo em busca de sua identidade, o que se realiza em novos coletivos de produção – e daí a máxima: internet, um mundo para os amadores. Essa formulação sobre indivíduos e coletivos de produção tem analogias exploráveis próximas à proposição de Eliseo Verón sobre a construção de coletivos a partir da circulação de sentido que se condensa nas interações entre atores. Esses eixos de reflexões são complementares, mesmo que contraditórias, mas não necessariamente antagônicas – as- sim, se observam as relações entre as grandes corporações que dominam as redes e a infinidade de plataformas acionadas por grupos e coletivos construídos e em construção de suas identi- dades, que na época eram considerados amadores, e que, atual- mente, podemos ponderar que se constituem em novos formatos de especialistas e profissionalização. Os aportes de Proulx (2016) adicionam novas percep- ções sobre esse processo, com suas reflexões sobre a dádiva dos usuários (a partir da teoria antropológica do dom), em tensão com a captação de dados e agenciamentos que produzem usos condicionados pelas lógicas do meio onde o usuário se inscreve, levando a direcionamentos adaptativos da cultura e compor-
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