Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Circulação: da zona de passagem à ambiência de interpenetrações de sentidos 171 Antes disso, estudos sobre os mass media chamavam a atenção para suas funções, bem como para os efeitos de suas ações. Isso foi feito sobretudo através da literatura funcionalista, que irrigou, de modo intenso e largo, bibliotecas e formações de pesquisadores sobre problemáticas comunicacionais – contudo, sempre assentadas em princípios lineares e causalistas. Somente em temporalidades posteriores, nos estudos sobre as mídias calcados em orientações pós-funcionalistas, é que a questão da insondabilidade da circulação é enfrentada, já no cenário de trânsito da “sociedade dos meios” para a “socie- dade em midiatização”. Nesta, as tecnologias transformadas em meios geram novas formas de funcionamento das práticas comunicacionais, bem como dos vínculos entre instituições e ato- res sociais. Ensejam, aí, intercambialidades que enfraquecem os processos interacionais administrados, até então, por estruturas mediacionais. A midiatização se faz, segundo nova dinâmica de pro- cessos complexos, através do trabalho da circulação. Esta se manifesta mediante entrelaçamentos de contatos entre os âmbitos de produção e recepção de discursos jornalísticos, apontando para a natureza de um outro tipo de trabalho enunciativo sobre a noticiabilidade. Trata-se de uma paisagem emergente, indicando, tam- bém, transformações nas condições de produção do discurso jornalístico, sua identidade e a relação dos seus operadores com os coletivos. Destacam-se ainda as transformações na “arquite- tura” comunicacional da ambiência jornalística, bem como os efeitos de gramáticas de várias naturezas sobre as estratégias de produção da noticiabilidade. São aspectos que apontam para o deslocamento do discurso jornalístico, indo de uma “zona de mediação” para outras modalidades de contato entre diferentes sistemas sociais. Ao longo de muitos anos, a circulação foi considerada uma “zona morta” ou, como querem outras designações, uma “zona de passagem”, por onde ocorreria o tráfego de mensagens do âmbito emissional para universos de consumidores. Estruturas tecnomidiáticas eram destacadas como instâncias mediado- ras, executoras da intermediação de mensagens entre ambien- tes mass-midiáticos (jornalísticos) e os públicos (audiências).

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