Antônio Fausto Neto 172 Mas a midiatização crescente enseja transformações profundas nos processos tecnocomunicacionais, causando o en- fraquecimento de matrizes mediacionais na medida em que as interações entre instituições e atores sociais passam a ocorrer diretamente, através de redes potencializadas pela internet e seus efeitos. Isso resulta no aparecimento de uma nova ambiên- cia, geradora de interações e fluxos de mensagens que envolvem universos heterogêneos – habitados por atores midiáticos e sociais. Tecnologias e suas lógicas comunicacionais impõem- -se à ambiência social, transformando suas práticas. Especial- mente a internet, que trata de organizar a arquitetura comuni- cacional segundo fluxos diretos, sem a mediação dos clássicos intermediários – daí resultando novas e complexas situações de intercambialidade. Porém, devemos lembrar que as afetações das novas tecnologias sobre a organização social não se dão de modo li- near, uma vez que são atravessadas por descontinuidades e as- simetrias como efeitos de gramáticas, lógicas e racionalidades, conforme postula a semiose social. Dessa forma, não se trata da emergência de uma ambiência estruturada em torno de ló- gicas de convergência, conforme apregoavam alguns preceitos funcionalistas. Pelo contrário, constitui-se de divergências, uma vez que, antes de reforçar a uniformidade social, a midiatização acelerada das sociedades industriais nos conduz, muito provavelmente, para funcionamentos significantes cada vez mais complexos (Verón, 2004). A complexificação do funcionamento da organização social e de suas práticas como consequência da midiatização vem sendo uma problemática tematizada desde o final do sé- culo passado. Mas, por muitos anos, fomos herdeiros, nos ambientes de pesquisas comunicacionais, das injunções e reflexões da teoria da ação social, que povoaram largamente os estudos latino-americanos. É no seio desse marco analítico que a problemática da circulação foi, inicialmente, naturalizada, através do reconhecimento de que o intercâmbio entre produção e re- cepção era manejado segundo a supremacia do ator-produtor (enquanto operador da emissão).
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