Circulação: da zona de passagem à ambiência de interpenetrações de sentidos 173 Posteriormente, os efeitos do debate acerca dos marcos da teoria da ação social sobre a pesquisa comunicacional permi- tiram deslocamentos epistemológicos importantes, passando-se a uma problemática que examinaria, de modo mais complexo, as relações entre processos midiáticos e suas operações de pro- dução de sentido. Esses novos “ventos analíticos” problemati- zariam a perspectiva funcionalista e, mais especificamente, sua recusa à complexidade da circulação. Convém recordar que a perspectiva funcionalista abs- trai a natureza da relação produção/recepção, particularmente a diferença entre esses componentes, admitida apenas enquanto espécie de “desajuste” entre suas lógicas e operações. Em lugar de acentuar distância e diferença, enfatiza-se a lógica da linearização, reforçando, para tanto, a supremacia do locutor enquanto realizador de um ato emissional (e gerador de uma determina- da eficácia). Trata-se de uma formulação que se apoia em uma concepção reducionista do ato de comunicação, não complexifi- cando a diferenciação entre gramáticas e lógicas de produção e recepção. Tal compreensão ignora que o processo interacional ocorre segundo inevitáveis descontinuidades, conforme ângu- los lembrados pela teoria da complexidade. Assim, acentua-se a valorização do processo da comunicação segundo ênfase meramente transmissional. Nessa esfera, a circulação é entendida como zona de passagem, sem tensões e entrelaçamentos com outras instâncias, e situando-se apenas como o “elo intermediário” a serviço da transmissibilidade do ato emissor. Nessas condições, o ponto de vista funcionalista, ao não reconhecer a complexa materialidade da circulação, não poderia tensioná-la além das “impressões” de suas próprias crenças acionalistas. 2. Complexificando a circulação Atentar para a problemática da circulação implica examiná-la em temporalidades distintas, levando-se em conta, como horizonte observacional, o estudo de manifestações discursivas construídas na esfera do campo jornalístico, conside- rando-se ainda o contexto de midiatização em curso. Mais espe-
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