Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Antônio Fausto Neto 174 cificamente, a descrição de marcas da natureza e funcionamento dos vínculos entre produtores e receptores, envolvendo aspec- tos como a existência de mensagens autorreferenciais e seus efeitos sobre as práticas institucionais e estruturas de produção de conhecimentos. Além disso, faz-se pertinente observar outras muta- ções que se manifestam sobre a ambiência profissional jornalística, bem como suas práticas discursivas e interações com os lei- tores. Parte-se do princípio de que as complexas transformações nas dinâmicas circulatórias produzem mudanças nas rotinas e estruturas de produção jornalística, afetando especialmente as- pectos que envolvem sua dimensão identitária. Possivelmente, um dos efeitos desse novo cenário tenha a ver também com as transformações do “estatuto” do acon- tecimento e da própria notícia. Sabemos que interferências de “gramáticas” externas sobre as rotinas do campo jornalístico apontam para um deslocamento da atividade. O jornalismo vai, assim, de uma “zona de mediação” (conforme apregoava o fun- cionalismo) para outras “zonas de contato”, nas quais a construção social da noticiabilidade passa a ser disputada por funda- mentos e práticas de diferentes sistemas sociais. Chamamos atenção para algumas problemáticas identificadas nos processos observacionais de nossas pesquisas ao longo dos anos, especialmente aspectos que dizem respeito à complexificação da atividade da circulação em tempos de midiatização em processo. Convém destacar que, nessa transfor- mação mais complexa da ambiência comunicacional, estruturas dos mass media vão sendo subsumidas por “arquiteturas” e lógicas de redes, através das quais instituições e atores de diferentes naturezas passam a se conectar diretamente entre si – prescin- dindo das clássicas estruturas mediacionais. Trata-se de um fenômeno atribuído à “revolução do acesso”, a qual é resultante da criação da internet e seus com- plexos impactos sobre campos sociais diversos (em termos de protocolos interacionais). Nessas condições, práticas comunica- cionais até então vigentes se deslocam para tal ambiência, su- bordinando-se às suas dinâmicas e lógicas e operando de acordo com intercambialidades fundadas em complexos processos de circulação.

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