Plataformas, algoritmos e IA: questões e hipóteses na perspectiva da midiatização

Antônio Fausto Neto 178 ções enquanto retroações por parte dos atores sociais, pois suas lógicas e operações escapam ao controle das instituições. Devem ser lembradas ainda as transformações que se manifestam sobre as próprias mídias e suas práticas, pelo fato de elas se inserirem no funcionamento de um determinado mo- delo de organização social. E uma das consequências dessa nova realidade é o fato de as práticas realizadas pelos processos midiáticos, a despeito do seu papel distinto na gestão da organi- zação social, não gerarem efeitos determinísticos sobre outras práticas sociais. Suas afetações não se dão de modo linear, pois as interações engendradas ocorrem a partir de tensões entre ló- gicas e operações distintas dos universos da produção e recep- ção de discursos. Ou seja, os processos de interação são tecidos em torno de descontinuidades e assimetrias. Em vez de cristalizar-se a leitura das afetações midiá- ticas sob um ponto de vista de natureza causalista, ela não se dá, pois, “antes de reforçar a uniformidade social, a midiatização acelerada das sociedades industriais nos conduz, mui provavel- mente, para funcionamentos significantes cada vez mais complexos” (Verón, 2004, p. 67). Ao se observar transformações da “sociedade dos meios” para a “sociedade em midiatização”, aponta-se a problemática da circulação permeando a organização social. Esta vem associada às novas dinâmicas comunicacionais e possibilidades de interação, bem como suas manifestações. Tal problemática se complexifica entre o fim do século passado e as primeiras décadas do século atual, suscitando efei- tos diversos. Além dos provocados pela emergência da internet – e seu impacto sobre as condições de produção e transmissão de conhecimentos –, destacamos mutações em processos in- teracionais que envolvem práticas sociais diversas, entre elas: as transformações nas relações dos meios com as instituições e atores sociais; o surgimento de novos coletivos; e a “erosão” das identidades dos campos sociais diversos, na medida em que o funcionamento, as interações e práticas sociais escapam da regulação das instâncias mediadoras. Em suma, os circuitos di- ferenciados fazem emergir novos protagonistas, bem como processos de produção de sentidos.

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